F. Magazine Ed. 23 - A revista da joia brasileira | Page 164
SUSTENTABILIDADE
“
Essa é a função do design: você pensar no produto, no impacto que esse produto
causa e nas maneiras que temos de trabalhar agredindo menos o meio ambiente
Rita Prossi
”
Engracia Costa Llaberia
Inspiração na Amazônia
A infância cercada pela cultura amazônica, as lendas regionais
e o contato com o trabalho artesanal de subsistência das
tribos indígenas geraram as biojoias criadas pela artista Rita
Prossi, que ingressou nesse caminho em 1994, quando criou
sua primeira peça com materiais originários da natureza. Essa
descoberta a fez trilhar um caminho diferente. Hoje, a artista
é consagrada e reconhecida em países como Alemanha,
Itália, França e suas criações cercadas de componentes
ecológicos foram escolhidas para presentear celebridades
e autoridades, dentre elas o Príncipe de Mônaco, Albert
II, o Papa Bento XVI, a duquesa da Cornualha, Camila
Parker Bowles e tantos outros.
Nas joias de Rita, carregadas de histórias sustentáveis, todo o
material nasce da Amazônia: são as sementes de tucumã, as
fibras naturais, como a de arumã, o babaçu, a madeira e até
a pele de peixes daquela região. Mas calma. Tudo é extraído
da natureza de forma sustentável. A pele do peixe, que passa
por um processo de curtição, é desprezada do filé que serve
à indústria; as sementes são recolhidas após estarem no
chão; a madeira não vem do desmatamento, e como conta
a artista, toda a produção nasce de circunstâncias em que o
meio ambiente é poeticamente respeitado.
“O índio que tece a palha ou colhe a semente, o artesão que
limpa, lixa e corta, o designer que cria o modelo, enquanto o
ourives faz a produção, os pedristas que fornecem as pedras,
os cravadores que as cravam na montagem, as índias do alto
Rio Negro fazem as embalagens de forma artesanal, e depois
a distribuição chega às lojas”, recita a artista, detalhando um
processo que valoriza o natural, a reciclagem o planeta. Rita
avalia que só pode ser considerado sustentável um produto
final que não agride toda a cadeia existente por trás de sua
produção. “Você não é sustentável apenas por usar materiais
alternativos, mas também por usar um método de trabalho
onde todos ficarão bem”, detalha a artista.
O processo criativo também passa por esse caminho
sustentável. “Essa é a função do design: você pensar no
produto, no impacto que esse produto causa e nas maneiras
que temos de trabalhar agredindo menos o meio ambiente”,
avalia Engracia Costa LLaberia, coordenadora e professora
do Curso de Graduação Tecnológica em Design de Joias da
Universidade Anhembi Morumbi e diretora de Design da
Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo.
Engracia tem promovido discussões para mostrar que o uso
de materiais menos tradicionais pode ser uma tendência
na joalheria. “Tem uma proposta de uso de reciclagem que,
provavelmente, é algo sobre o que a gente vai ter que pensar,
em função dessa tendência de comportamento que vem
crescendo desde o final da década de 90”, avalia.
Segundo ela, as marcas que têm buscado discutir
questões ambientais e demonstram uma preocupação
ecológica recebem um olhar mais atento do público
consumidor. E a indústria de joias pode adotar o uso de
novos materiais, menos impactantes ao meio ambiente,
e usar novas tecnologias como um diferencial. “O setor
trabalha com ouro, prata e gemas que exploram o meio
ambiente”, cita Engracia. “Temos que pensar de que
maneira fazer isso sem ser tão agressivo”.
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