F. Magazine 26 Revista Montada-fm26 | Page 167

imenso destaque para o ouro, que por suas qualidades estéticas e escassez, logo relacionou-se a nobreza e aos sentidos advindos do sol, energia vital e renovação. Foram incorporando gemas das mais variadas ao mesmo tempo que os processos produtivos iam se aperfeiçoando, garantindo novas camadas simbólicas relacionadas à raridade, preciosidade e exclusividade. No passado, as inspirações vinham do ambiente natural, como vegetais, plantas e flores, animais e conchas, mas também dos deuses e das figuras mitológicas, para só depois os artesãos irem buscar suas referências na cultura material, nas artes em geral, no design e na arquitetura. E hoje as referências são as mais diversificadas possível, de poesia à publicidade, da pintura ao turismo, passando pelo cinema e pela gastronomia. É certo que para além da materialidade preciosa que a joia enseja e da beleza sempre esperada, há uma imensa dimensão simbólica, portanto, arbitrária e cultural, que faz da joia uma das mais especiais criações humanas. Mas, quais seriam os sentidos e significações engendrados pelas joias na contemporaneidade? Mais do que reforçarem sua condição de perenidade e hereditariedade, a joia deve conectar-se ao zeitgeist que vivemos, incorporando os sentidos da experiência, da transitoriedade, do acesso, da moda com sua efemeridade constitutiva, da singularidade e da autoria, do compartilhamento. Se a joia alia raridade, com beleza e grande valor – esses últimos são os valores sociais que pautam nossa vida hoje. “ Mais do que reforçarem sua condição de perenidade e hereditariedade, a joia deve conectar-se ao zeitgeist que vivemos, incorporando os sentidos da experiência, da transitoriedade, do acesso, da moda com sua efemeridade constitutiva, da singularidade e da autoria, do compartilhamento ” Clotilde Perez é professora titular de publicidade e semiótica da ECA-USP. Fundadora da Casa Semio. Parceira da AjoRio. [email protected] 147 165