imenso destaque para o ouro, que por suas qualidades
estéticas e escassez, logo relacionou-se a nobreza e aos
sentidos advindos do sol, energia vital e renovação. Foram
incorporando gemas das mais variadas ao mesmo tempo que
os processos produtivos iam se aperfeiçoando, garantindo
novas camadas simbólicas relacionadas à raridade,
preciosidade e exclusividade.
No passado, as inspirações vinham do ambiente natural,
como vegetais, plantas e flores, animais e conchas, mas
também dos deuses e das figuras mitológicas, para só depois
os artesãos irem buscar suas referências na cultura material,
nas artes em geral, no design e na arquitetura. E hoje as
referências são as mais diversificadas possível, de poesia à
publicidade, da pintura ao turismo, passando pelo cinema e
pela gastronomia.
É certo que para além da materialidade preciosa que a
joia enseja e da beleza sempre esperada, há uma imensa
dimensão simbólica, portanto, arbitrária e cultural, que faz
da joia uma das mais especiais criações humanas. Mas, quais
seriam os sentidos e significações engendrados pelas joias na
contemporaneidade? Mais do que reforçarem sua condição
de perenidade e hereditariedade, a joia deve conectar-se
ao zeitgeist que vivemos, incorporando os sentidos da
experiência, da transitoriedade, do acesso, da moda com
sua efemeridade constitutiva, da singularidade e da autoria,
do compartilhamento. Se a joia alia raridade, com beleza
e grande valor – esses últimos são os valores sociais que
pautam nossa vida hoje.
“
Mais do que reforçarem sua condição
de perenidade e hereditariedade, a joia
deve conectar-se ao zeitgeist que vivemos,
incorporando os sentidos da experiência, da
transitoriedade, do acesso, da moda com sua
efemeridade constitutiva, da singularidade e
da autoria, do compartilhamento
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Clotilde Perez é professora titular de publicidade e semiótica da ECA-USP. Fundadora
da Casa Semio. Parceira da AjoRio. [email protected]
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