Edição 569 Julho/Agosto EDIÇÃO 569 | Page 46

P ortos CCCC mapeia oportunidades nas áreas portuária e ferroviária Joseph Young e Augusto Diniz A estatal China Communications Construction Company (CCCC), especializada em construção e operação relacionada a transportes, ma- peia diversas oportunidades no Brasil. Entre os negócios que mais cha- mam a atenção da gigante chinesa hoje são portos e ferrovias. A CCCC adquiriu no início do ano passado 80% da Concremat (20% das ações se mantiveram com a família), dando começo prático ao seu audacioso projeto no Brasil. Lin Li, CEO da CCCC South America Regional Company, em entrevista à revista OE, disse que há mais de 20 anos que o grupo olha as oportuni- dades na América do Sul. “No passado, tínhamos intenção de participação de licitações, mas as grandes companhias tinham muita força e a regula- ção dificultava. Não podíamos entrar no mercado brasileiro”, cita. Mas desde 2014, o quadro mudou, quando as investigações no setor tomaram vulto, crian- do uma abertura para que empresas multina- cionais pudessem operar no País. Lin Li conta que a primeira ação foi abrir um escritório da holding em São Paulo – um ano antes da aqui- sição da Concremat. “Na época, estudamos vários negócios com companhias locais, mas quase todas estavam envolvidas com as inves- tigações no âmbito da Lava-Jato. Isso gerava alto risco”, conta. “Mas finalmente selecionamos a Concremat, que é a maior companhia de engenharia consultiva do País”. A Concremat, segundo o executivo, tem muita sinergia com os ne- gócios da CCCC no que tange à infraestrutura, mineração, edificações, energia e óleo e gás. “O plano é desenvolver a capacidade da empresa na modalidade EPC para a Concremat. Além de agregar nossa expertise para engenharia marítima em portos, que é uma das nossas especialidades”. Ele lembra, porém, que antes da aquisição da consultoria brasileira foi preciso alinhar com as acionistas o negócio. A CCCC é uma holding estatal com seis empresas, sendo a de construção a maior delas, mas há uma ligada a real state, outra de engenharia de portos e também uma empresa dedicada à fabricação de guindastes, porta-container e outros equipamentos portuários. São estas duas últimas empresas do grupo, associada a sua lon- ga experiência em obras portuárias (na China, por exemplo, a empresa construiu 90% deles), que a CCCC tem foco nesta área no Brasil. Depois de estabelecer o escritório da holding no País e de assumir a Concremat, a empresa partiu para sua terceira ação, que foi e fetivar as oportunidades, principalmente na área de infraestrutura, onde passou a reunir aqui capacidade de projeto, engenharia, investimento, equipa- mentos, construção e operação. “Sabemos que no Brasil pode-se gerar negócios muitas vezes em concessões com investimentos próprios das companhias. Assim, quere- mos trazer nossos investimentos combinado com a unidade executora”, diz Lin Li. “Mas é preciso dar forma para desenvolver os negócios”. Quando o executivo cita a questão de “dar forma” às ações, ele menciona diretamente os processos no País para participar das licita- 44 | | J u l h o /A g o s to 2018 Projeto do futuro Terminal de São Luís (MA) ções e a necessidade de analisar os passos a serem dados nesse campo. No caso, por exemplo, do Ferrogrão – ligação ferroviária de Sinop (MT) a Miritituba (PA) - onde a CCCC tem interesse de construir e operar, ele ressalta que é necessário garantir o tráfego de carga mínima. “Para a CCCC, o Ferrogrão é atrativo e interessante, mas é um investimento muito grande. Estamos conversando com o governo brasileiro para di- mensionar a carga futura. O governo pode licitar uma espécie de carga mínima num determinado período, por exemplo”, diz. O Ferrogrão se desenha para ser um projeto de parceria público- -privada (PPP). As tradings do agronegócio, como ADM, Cargill, Dreyfus, Bunge e Maggi, encomendaram um projeto básico para tentar viabilizar a ferrovia. Em Miritituba, essas tradings já até desenvolvem terminais de operações logísticas. “As exportações tem a perspectiva natural de se escoar pelo Norte do Brasil”, avalia o CEO da CCCC. Não por acaso a empresa assumiu uma participação substancial no projeto de um terminal na área portuária de São Luís, no Maranhão, ano passado, associado ao grupo WT. “Investimos nisso por que o potencial agrícola do Matopiba (con- fluência dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) é imenso”, diz. A CCCC conta com o escoamento de produção dessa região pela Estrada de Ferro de Carajás. “Assim, formatamos a modalidade no porto de São Luís de financia- mento, construção e operação”, diz. A CCCC corre para fechar acordos com empresas chinesas de exportação de grãos e óleo e gás, e também faz contatos com grupos locais para uso do terminal. A companhia não opera portos na China, mas se envolveu em parte expressiva de construção deles em território chinês. Lá, os portos são ainda de administração estatal, ao contrário das rodovias, onde a CCCC opera extensa malha sob concessão na China. Hoje, no terminal do porto de São Luís, a CCCC realiza supressão vegetal e trabalhos geotécnicos. O projeto detalhado, a ser assinado pela Concremat, deve sair em setembro para, assim, dar início à construção do terminal. Lin Li explica que empresas chinesas também virão para trabalhar na obra, que devem terminar em 2021. O investimento total é de R$ 1,9 bilhão. A construção inclui o acesso rodoviário e 3 km de ferrovia – a companhia está em contato com VLI, que opera a ferrovia de Carajás, para definir as conexões. A empresa demonstrou recentemente também interesse no Termi- nal Graneleiro da Babitonga (TGB), que exigirá investimentos de R$ 1 bilhão para ser erguido em São Francisco do Sul (SC). Um estudo próprio da CCCC indica potencial de crescimento do porto, mas necessitaria de uma sinergia maior com a rede ferroviária Malha Sul, hoje administrada pela Rumo. Porém, a Rumo está em tratativas de renovação de con- cessão com o governo federal há algum tempo, o que dificulta uma resolução a curto prazo sobre o terminal graneleiro. A CCCC também demonstra interesse por trecho da Ferrovia de In- tegração Oeste-Leste (FIOL), que tem 70% da linha pronta entre Caetité e Ilhéus, na Bahia. A CCCC já firmou parceria com outras empresas es- trangeiras para conclusão da ferrovia e de sua operação.