Edição 568 Junho OE568_final | Page 4

E d i t o r i a l

Greve dos caminhoneiros expôs que a segurança da logística é quase zero

Os engenheiros de cabelos brancos diriam : que saudade do Geipot ! Essa entidade fazia o planejamento estratégico da infraestrutura de transportes do País . De lá para cá , pensar à frente do aqui agora ficou “ fora de moda ”. O único setor que escapou desse descompasso foi o segmento de energia , com ressalvas .
Há décadas o DNER sofre de carência de quadros e orçamento para melhorar a rede rodoviária nacional — quando muito se recapeava os trechos que estavam em piores condições ; as rodovias com pavimentos ruins eram e não exceção . O Dnit que o sucedeu não mudou o quadro .
As ferrovias ficaram nas calendas — não que faltasse exemplos de ferrovias eficientes , como a Vitória-Minas . Mas a Ferrovia do Aço demorou décadas para ser concluída . Depois veio a Norte-Sul , até hoje incompleta . Houve depois a aberração do projeto do trem bala Campinas-SP-Rio , que felizmente morreu antes de nascer .
O decantado potencial das hidrovias brasileiras foi outra promessa que não vingou . Temos apenas como destaque a hidrovia do Tietê-Paraná .
As concessões rodoviárias , a nível estadual e federal , trouxeram um salto gigantesco à frente em termos de qualidade e segurança para os usuários . Pena que a adesão do governo a esta modalidade sempre foi de oportunidade e sem muita convicção . O Estado hesita em abrir mão do que julga ser sua propriedade . Assim , ao longo de décadas , o processo de concessões sempre foi à base de stop and go .
As concessões ferroviárias seguem um ritmo mais titubeante ainda . Duas das maiores concessionarias aguardam há muitos meses a decisão do governo em renovar antecipadamente as concessões em troca de bilhões em investimentos — dinheiro que o governo não tem . Mas o MP e o TCU questionam a renovação antecipada .
Em saneamento , temos uma situação parecida . As empresas estaduais de saneamento não abrem mão dos seus domínios , mesmo quando sabem das limitações da própria capacidade de investimento . O potencial de expansão das concessionárias privadas que traria novos investimentos é mal aproveitado — e o prazo de universalização dos serviços de água e esgotos se alonga ano após ano , ao invés de encolher .
A sociedade que mostrou em tempos recentes estar farta da velha política , também precisa tomar a si o direito de influir nas decisões visando a melhorar a infraestrutura a médio prazo , recorrendo ao capital privado . O tempo de esperar pelo governo e legislativo se esgotou . Talvez possamos nos inspirar no modelo de alguns Estados e cidades dos Estados Unidos , onde projetos de infraestrutura são objeto de referendo na época das eleições !
A população escolhe se deseja uma obra contra enchentes ou linha de metrô e coloca em votação ; e se aprovada , o estado ou município pode emitir títulos para financiar as obras . O fato de os eleitores opinarem os tornam solidários pela boa execução e cumprimento do prazo da obra .
4 | | Junho 2018