Edição 567 Março/Abril 2018 | Page 4

E d i t o r i a l

Círculo vicioso a ser rompido

O prédio invadido que ruiu durante um incêndio , em São Paulo , em 1 º de Maio passado , simboliza a má gestão do bem público , construído sempre com recursos oriundos da arrecadação de impostos que incidem sobre a receita produzida pelas empresas e pessoas físicas . A sociedade produtiva paga a conta e não recebe retorno .
Guardadas as proporções , o mesmo acontece quando uma via urbana recapeada cuja pista durou apenas algumas semanas ; quando as torneiras das casas estão secas no verão ; se uma chuva mais pesada faz apagar a rede de energia de um bairro inteiro e inunda os mesmos sítios conhecidos há décadas , submergindo carros e casas ; semáforos se apagam paralisando o tráfego ; linhas de metrô reduzem a velocidade , deixando as estações abarrotadas de passageiros — repetindo algo que acontece há anos .
A Baía da Guanabara no Rio continuar poluída após os Jogos Olímpicos 2016 e os rios Pinheiros e Tietê idem em São Paulo , a despeito de programas de despoluição conduzidas por sucessivos governos estaduais . Enquanto isso , vemos escolas públicas , postos de saúde e habitação social que carecem de manutenção ou reforma — tudo isso se tornou regra geral e não exceção ...
As falhas da gestão pública é fato notório ; os vícios das licitações públicas de obras são recorrentes há décadas , sem solução à vista . O atraso tecnológico nos órgãos públicos , onde a papelada continua a se acumular , ignora os avanços da tecnologia da informação que já se difundiram nos setores privados da economia . Enfim , quando vai se mudar a velha prática de centralizar toda a gestão pública em torno de poucas personagens — seja prefeito , governador , ministro ou presidente — como se os quadros técnicos fossem meros figurantes decorativos .
Uma publicação dedicada à engenharia como a revista OE se vê obrigada a indagar : e como ficam as empresas de engenharia e as instituições da classe neste cenário caótico ? Na conjuntura atual em que os eleitores se mostram fartos da velha política , conhecidas incompetências — para sermos diplomáticos – e práticas condenáveis , e clamam pela renovação no Executivo e Legislativo , é de se esperar que soprem ventos parecidos também nas atividades de engenharia dedicadas à infraestrutura e construção .
Arriscamo-nos a propor que o trinômio custo- -prazo-qualidade seja resgatado pela engenharia no que concerne a obras públicas — começando pelo projeto detalhado de engenharia no formato BIM à disposição dos interessados na licitação . Evitar a modalidade fast track que é o caminho certo para estouros de orçamento e prazos . As empresas de engenharia só vão recuperar o respeito da opinião pública quando cumprirem os contratos assinados em termos de custos , prazo e qualidade .
Aliás , qualidade merece um destaque à parte . Toda obra precisa respeitar as normas técnicas e quem a construiu precisa dar garantia de qualidade . Dentro do prazo de garantia , a construtora e o projetista ficam responsáveis por eventuais reparos . Obra pública não pode mais ser sinônimo de coisa mal feita .
É verdade que os órgãos contratantes sofrem há décadas com falta de recursos e pessoal . Os drones e fotos aéreas georefenciadas estão aí para atestar que a presença humana pode ser substituída pela tecnologia . Um técnico competente agora pode monitorar diversas obras , do seu escritório . No final das contas , são as práticas que precisam mudar e a transparência prevalecer .
4 | | Abril / Maio 2018