Edição 566 Fevereiro/Março 2018 | Page 4

E d i t o r i a l

Infraestrutura some do debate político

Nenhum dos 11 candidatos já conhecidos para as eleições presidenciais de outubro fala da importância dos investimentos em infraestrutura para sustentar a retomada econômica . Incrível ! É como se tivessem evaporados as vias que transitamos , as pontes que atravessamos , a água fornecida pela rede , a iluminação pública , as casas que habitamos ... E se o celular emudecesse ? Sorte que as operadoras de telecomunicações são privadas e não dependam do governo para funcionar .
Na imprensa assistimos ao embate entre agronegócios e ambientalistas . Petrobras concentra ainda muita cobertura — puxada pelos aumentos de preço da gasolina ; fala-se também que o Rio vai poder acelerar sua recuperação graças ao volume crescente de royalties da Bacia de Campos e da retomada das obras da Comperj . Da mineração só se fala da Vale , como se o resto da indústria mineral não existisse , embora produzisse de bentonita e cobre até ouro e zinco , em todas as regiões do País .
Uma pauta que surge é a inovação que precisa ser incentivada , para que a economia brasileira sobreviva na nova era do conhecimento . Isso está em linha com a economia global . Mas setores tradicionais da economia nacional carecem de política pública para ganhar competitividade , com mais abertura e não protecionismo .
A recessão recém-finda esvaziou os cofres do governo nos três níveis — e o que se fez nos anos recentes é o mínimo do mínimo em manutenção de infraestrutura . O governo federal agarrou-se ao programa Minha Casa Minha Vida como salva-vidas do Titanic . Lançou seu programa de concessões à iniciativa privada e lavou as mãos — “ o futuro da infraestrutura
Transposição do São Francisco demorou uma década — exemplo recorrente da má gestão em obras públicas
depende de recursos privados ” decretou .
Os Estados viram minguar os recursos com a queda da arrecadação e enxugaram seus programas de obras . O levantamento exclusivo “ 100 Obras Regionais Relevantes ” publicado nesta edição desenha o mapa dos canteiros de construção — poucos dependem de recursos públicos .
São Paulo poderia ter se transformado no polo maior de atração de investimentos globais em infraestrutura nos anos recentes , caso o governo tivesse arquitetado essa estratégia e se estruturado para aproveitar esta janela de oportunidade . Pelo contrário , falhas de gestão inexplicáveis provocaram atrasos em obras que são verdadeiras vitrines na economia mais pujante do País .
O sumiço da infraestrutura no debate político também se deu pela omissão da própria Engenharia , envergonhada pela repercussão do “ petrolão ” e as intermináveis ramificações . Personalidades e instituições da engenharia se silenciaram , deixando órfã uma atividade que praticamente acompanhou a fundação do País pelos portugueses . É até compreensível esse recuo — mas chegou a hora de ousar uma nova abordagem .
Exemplo do movimento espontâneo da sociedade que repudia a velha política e busca novas personagens e o resgaste de valores esquecidos , a Engenharia está fadada a fazer o mesmo . Se não for por decisão pensada , será por exaustão . As mentes pensantes da Engenharia não podem aceitar a inércia .
A capital paulista arrecada R $ 50 bilhões e investe R $ 2 bilhões / ano , sem executar obras que previnam as enchentes de verão
Imagem que se repete na BR-163 / PA há anos
4 | | Fevereiro / Março 2018