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Teatro Informante sorteia três ingressos para Stand Up Bagual do Gaudêncio, do humorista Cris Pereira Página 5 Inside Sétima Arte Um reencontro, vários acertos de contas. T2, a ótima sequência do clássico Trainspotting Páginas 10 e 11 LITERATURA Definitivo adeus à juventude Em “Meia-Noite e Vinte”, seu mais novo romance, Daniel Galera fala com saudosismo da transição à vida adulta e as frustrações geradas a partir de expectativas que acabaram não se confirmando [email protected] A virada do mi- lênio era algo promissor. Um mundo novo se descortinava a partir do avanço da internet e a estabilidade econômica era o alicerce em que o futuro se sedimentava de forma plena, sem grandes percalços, pré- -concebido e planejado. Para quem viveu o período, o cená- rio era mais ou menos assim. A realidade, contudo, se mos- trou bem diferente. Um País em colapso, dilace- rado pela corrupção, instável política e economicamente e amedrontado pela violência é o ponto de partida de “Meia- -Noite e Vinte” (veja resenha na seção Primeiro Parágrafo, páginas 8 e 9 do Inside), o mais recente romance de Da- niel Galera, que vê o período dourado em retrospectiva a partir de um trio de amigos que se reúne a partir da morte de um quarto integrante, o famo- so e excêntrico escritor Duque, o mais brilhante do grupo. Ambientada no verão de 2014, em uma Porto Alegre escaldante, as frustrações da vida adulta dos três persona- gens narradores são potencia- lizadas a cada nova incursão nostálgica pela adolescência, gerando um desamparo ainda maior. Ao retratar essa deses- perança, de quem parece ter sido atropelado pelos acon- tecimentos, Galera, de certa forma, compila o sentimento de toda uma geração. Sagaz observador das agru- ras e incongruências do nosso tempo, algo que já havia feito há 11 anos, em “Mãos de Ca- valo”, o escritor, nascido em São Paulo, mas radicado des- de a infância em Porto Alegre, une duas pontas: 2014 com 1999, deixando um vazio en- tre os períodos, sintetizando as angústias de quem projeta- va um cenário muito diferente do que se revelou. Muito saudosista e um pouco memorialista (Galera, assim como Duque e seus amigos, também criou um fanzine eletrônico na virada do milênio, o CardosOnline), o escritor alicerça sua história com muitas referências da ju- ventude e de Porto Alegre. Na entrevista abaixo ele fala um pouco sobre isso, COL, mas também sobre os dilemas dos protagonistas, que encontram eco em quem viveu o período. Jornal Informante: Teus personagens estão quase sempre vivendo dilemas, conflitos existenciais bem complexos. Mas no “Meia- -Noite e Vinte” eles saem do plano particular e, de certa forma, atingem um plano co- letivo, já que o trio de narra- dores compila as frustrações de uma geração. Era essa a ideia inicial? E, se era, quan- Ramon Cardoso Crescer é difícil Galera traduz o sentimento de uma geração em “Meia-Noite e Vinte” to a utilização de três vozes te auxiliou neste processo? Daniel Galera: De fato, este é o primeiro livro com o qual busquei propositalmente abordar os dilemas e ansieda- des de uma geração específi- ca, entendendo geração como recorte um tanto parcial: bra- sileiros urbanos, de classe média, brancos, nascidos na virada dos anos 70 pros 80. O quarteto de protagonistas, se incluirmos Andrei, o amigo do trio de narradores que é as- sassinado logo no começo da história, me permitiu explorar os temas do livro a partir de ângulos mais diversos. Emilia- no é um sujeito inconformado com o modo de vida capita- lista, Antero se alimenta das contradições do mesmo sis- tema para alcançar sucesso pessoal, Aurora acredita na Segue na página 3