Detectives Selvagens 2- Medo | Page 95

Entre nós, o medo A ntónio escondeu-se debaixo da mesa de reuniões e ali ficou de olhos fechados. As vozes dos dois homens ecoavam pelo edifício. Gritos de ordens. Ameaças de morte. Sentiu-se paralisar, teve a certeza que se quisesse correr não o conseguiria fazer. A respiração tornou-se ofegante. Transpirava das mãos. As pernas tremiam descontroladamente. Não tinha voz. O dia iniciara como todos os outros. As rotinas habituais. Levantara-se. Tomara um banho bem quente. Vestira-se e saíra de casa às 8h20 em ponto. Antes de ir para a redação parara para o pequeno-almoço na pastelaria em frente ao seu prédio. Há cerca de cinco anos que morava naquele bairro e as rotinas diárias eram o que lhe dava o equilíbrio que a sua vida necessitava. Desde miúdo que sonhava ser jornalista e agora que o era, por vezes, arrependia-se. O quotidiano não era fácil, andava sempre de um lado para o outro atrás das notícias e dos seus protagonistas, deixando pouco tempo para a sua vida pessoal. Não tinha filhos, nem sequer alguém a quem pudesse chamar de namorada. Levava uma vida demasiado absorta nas suas investigações, entrevistas e escrita. 95