Entre nós, o medo
A
ntónio escondeu-se debaixo da mesa de
reuniões e ali ficou de olhos fechados. As
vozes dos dois homens ecoavam pelo edifício.
Gritos de ordens. Ameaças de morte. Sentiu-se paralisar, teve
a certeza que se quisesse correr não o conseguiria fazer. A
respiração tornou-se ofegante. Transpirava das mãos. As
pernas tremiam descontroladamente. Não tinha voz.
O dia iniciara como todos os outros. As rotinas
habituais. Levantara-se. Tomara um banho bem quente.
Vestira-se e saíra de casa às 8h20 em ponto. Antes de ir para
a redação parara para o pequeno-almoço na pastelaria em
frente ao seu prédio. Há cerca de cinco anos que morava
naquele bairro e as rotinas diárias eram o que lhe dava o
equilíbrio que a sua vida necessitava.
Desde miúdo que sonhava ser jornalista e agora que o
era, por vezes, arrependia-se. O quotidiano não era fácil,
andava sempre de um lado para o outro atrás das notícias e
dos seus protagonistas, deixando pouco tempo para a sua
vida pessoal. Não tinha filhos, nem sequer alguém a quem
pudesse chamar de namorada. Levava uma vida demasiado
absorta nas suas investigações, entrevistas e escrita.
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