Calma penada
*
É já depois das dezasseis e trinta que vejo, da esquina, a
São a sair do café com o meu casaco na mão. Tento procurar
algum sinal do envelope, perscruto as mãos, o casaco, a
bolsa, não vejo o envelope mas reparo, finalmente, numa
mão que acompanha a saída da porta do café: uma mão de
mulher: a mão da minha patroa. Elas param e trocam
algumas palavras, a São limpa os olhos, a Idália parece não
tentar confortá-la minimamente. Despedem-se e é neste
momento que ela lhe entrega o envelope. A São abre o
envelope, é mais inteligente do que eu, não reage, coloca-o na
mala e vira as costas e começa a caminhar: não caminha em
direcção a casa, não caminha rumo ao meu escritório, não
parece dirigir-se para casa da mãe, penso em interceptá-la,
em exigir-lhe justificações, talvez ela tenha mais perguntas
para me fazer neste momento, acabo por tentar acalmar-me e
segui-la a alguma distância.
*
Parou, finalmente, junto a uma cabine telefónica. Insere
um cartão e faz um telefonema, gesticula bastante, tira o
envelope da mala e lê o conteúdo, parece gritar com a pessoa
do outro lado até desligar abruptamente. Sem sair da cabine
87