Detectives Selvagens 2- Medo | Page 85

Calma penada ainda assim, devia ter percebido, eu bem reparei que andava estranha mas, aparentemente, não seria estranha o suficiente para eu a ter abordado, a verdade é que não me queria estar a chatear com isso. * Chego à esquina da minha rua e espero um pouco. Vim por um caminho que não costumo percorrer, e agora, aqui, na esquina, a respiração mantém-se ofegante, como se o presente fosse sempre a subir. Vou dando passos para trás e para a frente, temo que, ao virar a esquina, não possa mais voltar atrás e a ordem, a ordem de tudo, seja destruída de forma retumbante. Decido avançar até à porta do prédio, um mastodonte de madeira e ferro forjado, tão alta como barulhenta, chia os estertores de mil mortos a cada abertura ou fecho. Tiro a chave do bolso e rodo-a com o maior cuidado e, com a ajuda do corpo, empurro a porta com o menor barulho possível, deixando-me frente a frente com a escadaria de madeira. Dois andares, nunca contei o número de degraus, não o farei hoje. Paro em frente à porta e encosto o meu ouvido e ouço apenas o meu coração. A chave está na fechadura, volto a respirar fundo e abro a porta e sou recebido pelo silêncio do princípio de tarde, o sol nas cortinas da sala, os pássaros a cantar na marquise, um ou 85