João neves
tinha reparado que existia, a cafeína talvez me ajude a
aclarar as ideias, desaperto a gravata e tiro o casaco antes de
me sentar na primeira mesa junto à porta, acho que ainda
não tinha reparado em como está quente o dia, demasiado
quente para Janeiro. Peço o café e fico a observar a mesa
vazia à minha frente: vou ensaiando o discurso para logo à
noite, depois das pequenas se deitarem, antes vou ter de
fingir durante o jantar,
Sim, está tudo bem, e o teu dia, como foi?
O normal, as chatices do costume, o Antunes continua com
as merdas dele, desculpa, sei que não gostas que diga estas
coisas mas as coisas são o que são.
Ela vai encolher os ombros e vamos continuar a jantar.
Depois sim, quando elas se deitarem, levo-a para a sala,
penso que vou beijá-la primeiro, talvez ela estranhe logo que
algo
se
passa,
eu
também
tenho
estranhado
certos
comportamentos dela mas, mea culpa, pouco tenho ligado
porque tenho mais com que me preocupar, bem, onde é que
eu ia, ah, levo-a para a sala e vou dizer-lhe o que aconteceu,
vou impedi-la de responder, deito tudo cá para fora, o pior
que pode acontecer é ela pegar nas miúdas e ir para casa da
mãe, aposto que vai dizer que já sabia que isto ia acontecer,
aliás, aposto que será uma das reacções normais do resto das
pessoas, a mãe dirá eu bem te avisei, tão cliché quanto
verdadeiro. O café chega acompanhado de um copo de água,
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