Detectives Selvagens 2- Medo | Page 77

Calma penada Doutor. Doutora. Doutor. Doutora. António. Doutor. António. Doutora. Pego no envelope e coloco-o no bolso do casaco, num daqueles gestos geométricos de bancário de meia-idade e saio, deixando-os numa espécie de pose de quem assiste a um funeral, aliviados pelo este já foi mas nós ainda aqui estamos, não os vejo mas quero acreditar que trocam olhares e sei que, pelo menos, um dos cabrões está a sorrir. Desço as escadas de pedra, os sapatos a quererem deslizar nas arestas gastas fazem com que o encontro com o tapete da entrada seja um momento de insólito prazer, aproveito para parar e olhar para o espelho e tactear o envelope no bolso e, agora sim, sair pela porta e enfrentar o sol do meio-dia, pelo menos suponho que é meio-dia, deixei o relógio na gaveta do escritório quando me chamaram, com esta comoção toda nem me lembrei do relógio, vou ter de pedir a alguém que mo dê, atravesso a rua e estranho a sensação de não ter nada que fazer. Entro no primeiro café que encontro, nunca tinha vindo aqui, diria até que nunca 77