Detectives Selvagens 2- Medo | Page 71

Da perda Morando inclusivamente no mesmo quarteirão, a proximidade entre todos sempre foi grande. As bases da minha família eram fortes. Há um provérbio popular que reza "Quem tem saúde de ferro, pode um dia enferrujar". Independentemente do sucesso do percurso de cada um, o infortúnio calha a todos. Somos todos criaturas frágeis, sujeitos a sucumbir a um mal qualquer que apareça de surpresa. Ao meu tio calhou-lhe uma perfuração nos intestinos. Foi disso que faleceu, não sem antes ter passado por vários episódios críticos, que o deixavam num torpor autista, responsabilidade das úlceras nervosas que foi coleccionando. Era a noite já bastante avançada quando fui acordado com um sonoro grito. Um grito de mais profundo desespero, de um extravasar de emoções tão intenso que geraria um vazio incapaz de ser preenchido durante largos anos. Não precisei que me dissessem o que tinha acontecido. Seguiram-se os procedimentos habituais nestas situações. Lembro-me de, ao confortarmos a minha tia, ela dizer algo como “Ainda ontem ele me prometeu que ainda íamos lá...”. Na televisão dava a novela “Rei do Gado”. Os 71