Detectives Selvagens 2- Medo | Page 7

A fissura e o osso Para o caríssimo G. D ia 1 Meu caro, espero que não se sinta culpado pelo que lhe vou relatar, pois essa não é seguramente a minha intenção. E se o for, será um quase nada, culpa desta urgência tão humana em partilhar o desconforto. Mas não me quero perder. Queria dizer–lhe que não consegui mais dormir desde aquela nossa última diatribe. Não me sai da cabeça aquela sua defesa e ataque de tudo o que tem a ver com a Claridade, essa sua “Teoria Luminária”, como lhe chama. Cada vez que penso nisso, nada mais me ocorre senão essa divisão sectarista milenar com que se fracturou o mundo, preto e branco de conotações opostas e concorrentes, arriscar–me–ía a dizer inimigas. Dia e noite. Céu e Inferno. O Bem e o Mal como se fora deles só o vazio existisse. Continuo pouco convicto face aos benefícios dessa ”Luz”, pois foi na Idade das Trevas que ela mais brilhou. Mas estou convencido que não era esse o caminho que estava a querer percorrer naquela sua missiva, e mesmo se for, nada mais me 7