A fissura e o osso
Para o caríssimo G.
D
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Meu caro, espero que não se sinta culpado
pelo que lhe vou relatar, pois essa
não é
seguramente a minha intenção. E se o for, será um quase
nada, culpa desta urgência tão humana em partilhar o
desconforto. Mas não me quero perder. Queria dizer–lhe que
não consegui mais dormir desde aquela nossa última diatribe.
Não me sai da cabeça aquela sua defesa e ataque de tudo o
que tem a ver com a Claridade, essa sua “Teoria Luminária”,
como lhe chama.
Cada vez que penso nisso, nada mais me ocorre senão
essa divisão sectarista milenar com que se fracturou o
mundo, preto e branco de conotações opostas e concorrentes,
arriscar–me–ía a dizer inimigas. Dia e noite. Céu e Inferno. O
Bem e o Mal como se fora deles só o vazio existisse.
Continuo pouco convicto face aos benefícios dessa ”Luz”,
pois foi na Idade das Trevas que ela mais brilhou. Mas estou
convencido que não era esse o caminho que estava a querer
percorrer naquela sua missiva, e mesmo se for, nada mais me
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