Detectives Selvagens 2- Medo | Page 52

paulo rodrigues ferreira no nariz, não superaria outras provações que como profissional da vilanagem teria de enfrentar. O que talvez escapasse a Nero era o facto de o indivíduo ensacado não o conhecer de lado algum e nunca ter ouvido a sua voz. «Cá se fazem, cá se pagam.» Um Nero esforçadamente nasalado, tentando empregar corretivo que vingasse a sua princesa anodonte, prenunciava óbitos, naifadas, marradas, marretadas, mocadas, pauladas, ripançadas se, teimava no se, a sua Mon Chéri (como reverenciava aqueles bombons) fosse novamente fornicada com uma fronha na cabeça. «O que me respondes, manigâncias?», perguntava num berro. Como qualquer pessoa de boca cheia de pano, Orestes soltou uns cuincados mas nada perceptível. O inteligente Nero não demorou a compreender que o pano enxertado na boca do ensacado não desaparecia por intervenção divina. A mola apertava-lhe tanto o nariz que parecia que, se tossisse ou espirrasse, perderia a cabeça. O nariz, panela de pressão, cortava-lhe capacidade de raciocínio. Pouco demorou até que Nero tivesse tirado a mola do nariz e destapado a boca e desensacado o sujeito que tão mal fazia à sua Prolixa. Orestes resfolegava deitado na terra, pedia desculpa por ter desrespeitado a prostituta, que nem prostituta era, mas senhora, dama, menina, flor, docinho, uvinha, cerejinha. Um abraço de reconciliação entre dois desconhecidos, um chuto na saca e a Prolixa esquecida. «Aquela cara mete real nojo», 52