Prolixa e nero
caminho. Sofia ficava arrumada como uma boneca de
porcelana esquecida em cima de naperon, esperando que a
criança se lembrasse de lhe pegar. Orestes aprofundava a sua
ligação a múltiplas representantes da «Snifa & Snifa»,
associação de que a prostituta Prolixa era das maiores
tributárias, tendo mesmo chegado a ser eleita por diversas
vezes «Snifadora do Mês». Entrava em becos escuros,
cortiços, adormecia onde calhava, umas vezes no quarto da
prostituta, outras no meio da rua ou em bancos de jardim. A
prostituta Prolixa, a mesma desdentada com que não
conseguia fornicar sem enfiar uma fronha pela cabeça, não
era burra. Certo dia, cansou-o e deu-lhe de beber uma água
com pós entorpecedores à mistura que o fez cair como uma
rocha no colchão. O chulo Nero só teve de entrar em cena,
enrolar metro e meio de corda à volta dos braços e das
pernas do adormecido, enfiar-lhe uma saca de ráfia pela
cabeça e levá-lo de carro para um descampado. O susto foi
grande. Orestes acordou a tremelicar de frio, sem saber onde
estava. Tentou debalde gritar, tinha a boca tapada, os olhos
vendados, levava calduços, pontapés, rebolava dentro da
saca e levava mais patadas. Nero falava de narinas tapadas
por uma mola de estender a roupa, por ter ouvido dizer que
era assim que os profissionais do crime faziam quando não
queriam ser reconhecidos. A mola magoava-lhe o nariz, mas
tinha de falar daquela maneira. Se não aguentava uma mola
51