paulo rodrigues ferreira
Na boca da Prolixa não constavam três dentes
considerados essenciais para qualquer apreciador de beleza,
pelo que, para satisfazer as suas necessidades, Orestes teve de
enfiar a fronha de uma almofada na cabeça da moça. Trinta
minutos passavam a velocidade cósmica e ele despachara-se
em metade desse tempo, o que lhe dera margem de manobra
para
se
pisgar
sorrateiramente,
evitando
despedidas,
cumprimentos, acenos ou cruzares de olhares. Ainda de
cabeça coberta pela fronha, a prostituta gritou, gritou,
«Nero, Nerito.» O chulo compareceu, destapou-lhe a cabeça,
libertou-a da corda que lhe amarrava os braços, inspecionou
os cantos e recantos, inquiriu onde parava o tratante que a
deixara naqueles preparos, a Prolixa, atordoada, não sabia.
As notas esticadas no colchão, suficientes para generosa
contribuição
para
a
associação
«Snifa
&
Snifa»,
apascentaram o chulo, que imediatamente deitou o gadanho
ao dinheiro e se escafedeu em busca de dose reforçada de
heroína.
Orestes viveu inúmeros episódios como o da prostituta
Prolixa. Desdentadas, secas, leprosas, balofas, oleosas. Assim
que se apanhava com capim, metia a pata em bife de alcatra,
tapava a boca à rameira, qualquer que ela fosse, e serviço
feito. Não pensava noutra coisa que não em prostitutas.
Vasculhava os bolsos das calças do padrasto, a mala da mãe,
subtraía notas e moedas, o que encontrasse e punha-se a
50