Detectives Selvagens 2- Medo | Page 50

paulo rodrigues ferreira Na boca da Prolixa não constavam três dentes considerados essenciais para qualquer apreciador de beleza, pelo que, para satisfazer as suas necessidades, Orestes teve de enfiar a fronha de uma almofada na cabeça da moça. Trinta minutos passavam a velocidade cósmica e ele despachara-se em metade desse tempo, o que lhe dera margem de manobra para se pisgar sorrateiramente, evitando despedidas, cumprimentos, acenos ou cruzares de olhares. Ainda de cabeça coberta pela fronha, a prostituta gritou, gritou, «Nero, Nerito.» O chulo compareceu, destapou-lhe a cabeça, libertou-a da corda que lhe amarrava os braços, inspecionou os cantos e recantos, inquiriu onde parava o tratante que a deixara naqueles preparos, a Prolixa, atordoada, não sabia. As notas esticadas no colchão, suficientes para generosa contribuição para a associação «Snifa & Snifa», apascentaram o chulo, que imediatamente deitou o gadanho ao dinheiro e se escafedeu em busca de dose reforçada de heroína. Orestes viveu inúmeros episódios como o da prostituta Prolixa. Desdentadas, secas, leprosas, balofas, oleosas. Assim que se apanhava com capim, metia a pata em bife de alcatra, tapava a boca à rameira, qualquer que ela fosse, e serviço feito. Não pensava noutra coisa que não em prostitutas. Vasculhava os bolsos das calças do padrasto, a mala da mãe, subtraía notas e moedas, o que encontrasse e punha-se a 50