A forma do medo
Tim, com uma expressão arrogante, regressando à secretária.
Os dois pessimistas passaram a noite seguinte a
discutir a evolução de várias figuras notáveis da história.
Tendo-se raivosamente despojado de todas as suas ideias,
tornando assim o mundo um lugar bem mais desagradável,
acabavam a debater-se apenas com os seus postulados e
teorias esgotadas.
A humidade da madrugada instalava-se. As
garrafas e os maços de tabaco iam já no fim. Tim, virando-se
para o amigo e quebrando o silêncio constrangedor com um
longo suspiro, disse:
“Rick, sabias que o medo tem uma forma?”
“É como o meu nariz.”
“Perguntaste-me antes do que é que eu tinha medo.
Deus me perdoe, mas tenho que confessar isto a alguém. Do
que eu tenho medo é do próprio medo!”
“Sim, mas isso é porque bebeste demais. Ou então, não
o suficiente...”
“É verdade o que te estou a dizer. Tenho medo de
assombrações.”
“Para um agnóstico isso parece-me um pouco...”
“Agnóstico! Sim, tão completamente agnóstico que nem
sequer sei que nada sei. Por Deus, homem, queres-me dizer
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