A forma do medo
T
im O'Connor, descendente dos O'Conors com
um N – foi desde cedo na sua vida um
entusiasta da poesia.
A sua mãe tinha-o
destinado ao sacerdócio, e, aos 15 anos, a maioria dos seus
versos tinha um cariz eclesiástico.
De alguma forma, partindo da poesia formou-se
como jornalista, tornando-se também um pessimista, mas
com um estilo literário de grande beleza e trabalhador de
rendimentos modestos.
As pessoas de que se rodeava eram figuras que
discutiam as artes pelas artes – se bem que ninguém sabia
bem as competências que tinham para o fazer – e aos poucos
a sua visão da vida e do amor tornara-se algo profana.
Era acompanhado por uma sua conhecida, que
continuamente
lhe
esgotava
a
vitalidade. Tim
tinha
consciência disto, contudo, não esboçava qualquer protesto.
Para gáudio dos seus companheiros de discussão das artes,
chegou mesmo a casar-se com ela. Não lhes conseguia fazer
entender que seguia as tradições de cavalheirismo dos seus
antepassados, e que lhe era impossível agir de outra forma.
Ria-se dos dias de juventude, em que alimentara a
ilusão do sacerdócio e corava ao reler os seus antigos versos,
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