Detectives Selvagens 2- Medo | Page 23

Red eyes, cold feet parou de mão estendida à maçaneta, como que com receio de ser electrocutado caso lhe tocasse. Era sempre Ana que abria e fechava a porta quando o vinha visitar com a chave que este lhe havia dado e, agora, Rui sentia-se estúpido perante aquele obstáculo, facilmente ultrapassável para o comum dos mortais, mas uma estrada armadilhada de metro a metro para ele. Ficou, durante algum tempo, com o polegar e o indicador a escassos centímetros da maçaneta, olhando fixamente toda a porta, primeiro a maçaneta dourada, depois os frisos que compunham a parte inferior da porta, finalmente, os que compunham a parte superior. Ao longo daqueles meses, nem por um segundo havia reparado naquela porta, considerava-a um prolongamento da parede, vivendo, assim, numa casa apenas com paredes e janelas, em que apenas os outros poderiam entrar e sair, nunca ele. Rui demorou-se a observar a porta, contemplando todos os seus detalhes, até a conhecer de cor, como se estudasse um mapa complexo, e, ao fim de mais alguns minutos, ou seriam horas?, acabou por sentir o metal da maçaneta na ponta dos dedos, sustendo a respiração por segundos, à espera de uma terrível consequência. Nada. Embora mais descansado, Rui sentia-se tremendamente esgotado, como se tivesse passado a noite de pé junto àquela porta, sensação que poderia ter facilmente comprovado como verdadeira se tivesse olhado uma janela, pois surgiam agora os primeiros raios do sol 23