Red eyes, cold feet
parou de mão estendida à maçaneta, como que com receio de
ser electrocutado caso lhe tocasse. Era sempre Ana que abria
e fechava a porta quando o vinha visitar com a chave que
este lhe havia dado e, agora, Rui sentia-se estúpido perante
aquele obstáculo, facilmente ultrapassável para o comum dos
mortais, mas uma estrada armadilhada de metro a metro
para ele. Ficou, durante algum tempo, com o polegar e o
indicador a escassos centímetros da maçaneta, olhando
fixamente toda a porta, primeiro a maçaneta dourada, depois
os frisos que compunham a parte inferior da porta,
finalmente, os que compunham a parte superior. Ao longo
daqueles meses, nem por um segundo havia reparado
naquela porta, considerava-a um prolongamento da parede,
vivendo, assim, numa casa apenas com paredes e janelas, em
que apenas os outros poderiam entrar e sair, nunca ele. Rui
demorou-se a observar a porta, contemplando todos os seus
detalhes, até a conhecer de cor, como se estudasse um mapa
complexo, e, ao fim de mais alguns minutos, ou seriam
horas?, acabou por sentir o metal da maçaneta na ponta dos
dedos, sustendo a respiração por segundos, à espera de uma
terrível consequência. Nada. Embora mais descansado, Rui
sentia-se tremendamente esgotado, como se tivesse passado a
noite de pé junto àquela porta, sensação que poderia ter
facilmente comprovado como verdadeira se tivesse olhado
uma janela, pois surgiam agora os primeiros raios do sol
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