Madalena serra
de sol cumprimentarem-lhe a face, pôs-se de pé e percorreu,
numa marcha curta e apressada, os quatros passos que o
separavam da janela que lhe permitia observar a rua em toda
a sua extensão, naquele momento quase deserta, coberta de
folhas amarelo-acastanhadas, que se acumulavam sobretudo
nas bermas da estrada e à volta das árvores enraizadas há
muitos anos, no passeio em frente àquela casa. Permaneceu
de nariz colado ao vidro da janela mais algum tempo,
enquanto ponderava sobre a sua saída, o que vestir, que
percurso seguir, como reagir se fosse abordado por alguém
na rua, o que dizer à mãe quando esta lhe abrisse a porta e,
automaticamente, pensava ele, paralisasse na soleira da porta
ao vê-lo magro, com barba, olheiras e cabelo desgrenhado,
com uma tez empalidecida, característica de um recluso que
não vê há largos meses a luz do dia. Vestiu o sobretudo
cinzento, outrora pertencente ao antigo dono daquela casa,
cujas mangas eram um pouco mais longas que os seus
braços, facto facilmente disfarçável caso andasse pela rua de
mãos nos bolsos. Passou os olhos pela estante que esvaziara e
trouxera de um corredor para o quarto onde dormia, na qual
colocou cerca de uma centena de livros que se encon travam
concentrados no escritório, decidindo levar um consigo, caso
o regresso àquela casa demorasse mais tempo que o previsto
por ele. Encaminhou-se para a porta do apartamento que
dava acesso ao corredor do terceiro andar daquele prédio e
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