Detectives Selvagens 2- Medo | Page 22

Madalena serra de sol cumprimentarem-lhe a face, pôs-se de pé e percorreu, numa marcha curta e apressada, os quatros passos que o separavam da janela que lhe permitia observar a rua em toda a sua extensão, naquele momento quase deserta, coberta de folhas amarelo-acastanhadas, que se acumulavam sobretudo nas bermas da estrada e à volta das árvores enraizadas há muitos anos, no passeio em frente àquela casa. Permaneceu de nariz colado ao vidro da janela mais algum tempo, enquanto ponderava sobre a sua saída, o que vestir, que percurso seguir, como reagir se fosse abordado por alguém na rua, o que dizer à mãe quando esta lhe abrisse a porta e, automaticamente, pensava ele, paralisasse na soleira da porta ao vê-lo magro, com barba, olheiras e cabelo desgrenhado, com uma tez empalidecida, característica de um recluso que não vê há largos meses a luz do dia. Vestiu o sobretudo cinzento, outrora pertencente ao antigo dono daquela casa, cujas mangas eram um pouco mais longas que os seus braços, facto facilmente disfarçável caso andasse pela rua de mãos nos bolsos. Passou os olhos pela estante que esvaziara e trouxera de um corredor para o quarto onde dormia, na qual colocou cerca de uma centena de livros que se encon travam concentrados no escritório, decidindo levar um consigo, caso o regresso àquela casa demorasse mais tempo que o previsto por ele. Encaminhou-se para a porta do apartamento que dava acesso ao corredor do terceiro andar daquele prédio e 22