Detectives Selvagens 2- Medo | Page 13

A fissura e o osso Acabei a última garrafa há um par de horas. Ao invés de me fazer colapsar, levou–me de mão dada pelas entranhas do delírio. E que delírio, meu caro amigo. Passei por todos os deuses e os seus pagens, por todos os demónios e as suas fobias, por todos os homens bons afogados na sua ignorância e todas as mulheres nuas de pudor. Vi todas as realidades numa única sala, com os seus acessórios sentados a um canto e todas as mentiras algumas vez inventadas a espreitar a tarde soalheira. Tenho frio. Um frio tão intenso que nos gelou do cerne à superfície. Um raio de luz acaba de pousar em cima da mesa da cozinha, um esguicho de mijo em estado gasoso. Consigo imaginar Deus, (escolha aquele que quiser) de pernas escancaradas e costas arqueadas, a mandar um arco divino e fétido sobre a cabeça da Humanidade, um baptismo dourado. Ouço passos à porta. Espero que não seja o carteiro. 13