Detectives Selvagens 2- Medo | Page 11

A fissura e o osso a uma linguagem codificada que deixaria Morse orgulhoso. Se ainda vou a meio da segunda garrafa, os ruídos que me chegam dos joelhos parecem–me apelos sofridos à submissão. Já os cotovelos me parecem mais combativos, desafiadores. Mas o pior de tudo são os pulsos e os nós dos dedos. De tão periféricos tornam–se marginais, sanguinários, sedentos de caos e de um permanente estado de emergência. Vou servir–me um último copo. Estou a tentar cortar, sabe? Dia 3 Meu caro amigo, ignore a provável incoerência destas linhas, mas de facto escrevo–lhe num estado de profunda agitação. Nada me faz agora duvidar que há alguém, ou algo, instalado dentro do meu esqueleto e que constantemente tenta comunicar comigo. Se está a pensar na parábola do Jeckyl e do Hyde, desengane–se. Tudo isto não tem absolutamente nada a ver com o bem e o mal, ou pelo menos nessa assumpção simplista que lhes damos. Apesar de infinitamente diferentes, ambos gozavam da mesma génese e este não é o caso. Eu e o que quer que seja que se manifesta dentro de mim nada temos em comum, excepto talvez o habitáculo. Mas espere, talvez não seja ele que está dentro de mim, mas sim eu que me colei a ele, uma espécie de egocentrismo 11