Marco Martins
comuns. Chegava a "casa", de rosto fechado e tudo o que lhe
apetecia era despir a sua alma, colocá-la num cabide bem
alto e desprezá-la, tornar-se nu, insensível, imoral e nessas
condicionantes passear-se, sem noção, pelos seus cantos
apenas com o seu corpo. A vida nesses momentos tornar-seia mais ligeira, suave, menos pensada, esquematizada,
concreta e, de certa forma, aproximava-se do seu desejo
fugaz de libertar-se de si próprio, do pensar, do refletir
acerca das teorias consecutivas que só serviam para o seu
córtex cerebral disparar, entrar em colapso e convulsionar
uma maré de idealismos antagônicos. Havia nesses dias uma
sensação contundente de um profundo incompleto, no seu
limite a frequência obtida tinha espectros duvidosos e, nesses
momentos, sentia-se a afogar na maré que enfurecida ainda
crescia volumosa até a preia-mar. Sem forças para vir ao
cimo, sem razão persistente, seria pertinente que nesses
momentos aquele corpo com réstias de alma ganhasse a
vontade
de
lutar
pela
sua
sobrevivência,
reagindo
impacientemente, lutando sofregamente, acima de tudo,
mantendo-se estável, recolhendo algum bom senso, pescando
em alto mar algumas palavras revitalizantes. A sua criação
estava carregada de fracasso, chegou à conclusão que o
sonho não lhe bastava, o espectro era irreal, as palavras eram
só suas, os pensamentos continuavam a formular o seu
vendaval, a sua tempestade e voltava ao princípio de tudo, à
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