Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 77

O fino fio do fim EJM Quem és tu que passa e eu não vejo? És vento, ou maresia? Vento não és certamente. És agonia! Porque não pedes o que queres e me deixas estar sozinha? Porque és ferro em brasa, alma daninha? Fora com esta vida, quero outra e melhor. Se o caminho em que vou me é permitido escolher, quero outro, quero saber quando e porquê morrer. Faço-me tua, mas sem nada para te dizer. Afinal são só palavras. Para um poeta qualquer palavra deve ser de êxtase. Para um amante qualquer olhar de desejo. Não sou poeta, não sou amante. Sou a sombra de ambos, desejo de ser todos, incapacidade de ser apenas um. E esse corpo que te envolve de marfim e diamantes. São perfeitos, os desejos dos poetas mas incontáveis os dos amantes. 77