O charco
assustada, observei com mais atenção o saco de plástico.
Imaginei pequenos bichinhos amarelados na base da
carapaça da Relíquia enquanto pegava nela, como costumava
fazer, e sentia a sua pele escorregadia, quente e peganhenta
como a minha testa ao acordar com dores nos ouvidos e ver
um líquido espesso e esbranquiçado espalhado na almofada.
A imagem das salmonelas minúsculas a subirem-me pelos
braços e a entrarem dentro de mim arrepiou-me. Solucei. A
minha mãe ajoelhou-se e abraçou-me. Assegurou-me que
ficaria tudo bem e que o melhor a fazer era deixar a Relíquia
no charco das rãs onde eu costumava ir com a avó.
Eu ficava em casa da minha avó todos os dias enquanto
a minha mãe ia trabalhar. Costumávamos ir até ao charco
depois do almoço, sempre bife com arroz branco ou pescada
cozida com batatas. Impaciente, perseguia as fitas do avental
da minha avó enquanto ela arrumava a cozinha. No carro
tinha perguntado à minha mãe porque motivo devia atirar a
Relíquia para o charco, não a podíamos levar ao veterinário
como se faz aos cães e aos gatos, ver se ela estava doente e
curá-la? A minha mãe disse que não. O melhor era mesmo
deitá-la no charco, até porque as tartarugas vivem na água. A
Relíquia ficaria a viver na água como as outras tartarugas
que eu via na televisão, na companhia das pequenas rãs
saltitantes em vez de passar o dia todo a olhar para a
65