Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 46

Jaime lencastre do Canina para obrigarem-no a vir jogar. Parece que chegou a pegar-se com o tio dele. Não assisti a isso. Tinha dado uma carga de porrada no gajo, isso posso garantir. Nunca consegui aturar aquelas gravatas mal postas, besuntadas de óleo e algum molho de comida, era um azeiteiro do pior. Agora que o Hugo já não estava, não sabia se eu iria continuar, era-me indiferente se ele me quisesse foder a vida no clube. Provavelmente conseguia sem problema. Enfim, tive pena de não lhe ter dado dois ou três murros. Com todo o respeito pelo Carlinhos claro, uma jóia de miúdo, não merecia aquele pai. O Canina… vimo-lo no funeral, sozinho, respondia a tudo com aquele encolher de ombros dele. Ainda falei com ele para voltar a treinar, depois falei com a mãe dele, com o tio dele, nada. Ninguém o convenceu. Acho que nunca voltou a jogar, nunca mais soube dele. O Miguel, que entretanto pegou na equipa, acho que ainda falou com ele uma vez ou outra, mas não deu em nada. Foi ele que o trouxe, se alguém o podia convencer era ele. O Careca e o Morais mudaram-se de clube, foram para Lisboa. Podiam estudar na universidade e continuar a jogar. Mas também acho que nunca chegaram a séniores. Pelo menos nunca os vi nos jornais. Também nunca mais soube nada do Miguel, desde que o clube fechou. Isso é que foi uma pena. O Miguel era gajo para se ter safado, podia ter sido adjunto num Braga ou Marítimo ou coisa assim. Acabei por nunca saber onde é 46