Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 45

juarense juniores e estava a ser complicado. Não íamos descer, nem pensar. O Canina dava nas vistas, como todos esperávamos e o espírito de equipa era aceitável. Alguns, claro, não aguentaram a pressão e fugiram com o rabo entre as pernas, deixaram de jogar. Era compreensível. O Marques, pai do Carlinhos e rei das sucatas, o gajo odiava que o tratassem assim, queria muito que ficássemos nos três primeiros. Não podia com ele. Claro que ele mandava naquela merda toda, o dinheirinho do patrocínio fazia milagres e falava-se que íamos receber uma camioneta nova, com ar condicionado e tudo. Nunca lhe vimos a cor. Até que a meio da época acontece aquilo ao Hugo, uma desgraça pá. O gajo andava a sentir-se cansado, mas quem é que adivinhava que lhe ia dar uma coisa daquelas? Tudo normal num treino, ele nem se enervou nem nada, desta vez, e cai para o lado. Ninguém ligava às queixas dele. Acho que nem ao médico o mandámos. Ele era um bocado queixinhas. Fazíamos pouco dele, até. Parvoíces, pá. Ainda era um gajo novo. Com família e amigos e de um dia para o outro está um gajo a apitar para pôr miúdos a jogar à bola e de repente está estendido no chão, vai desta para melhor, e os que fiquem cá que continuem e levem esta merda por onde tem que ir, seja lá para onde isso for. Ficámos em choque. Muitos não voltaram a treinar. O Canina foi dos que nunca mais apareceu. O pai do Carlinhos queria dar dinheiro à família 45