Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 43

juarense que já estava a sair de campo, uma coisa nunca vista pá. O Canina a não querer voltar para trás e o capitão a puxá-lo pela camisola a tentar explicar que ele não tinha sido expulso e o gajo a baixar a cabeça como que a não querer ouvir. Depois lá percebeu que não tinha sido expulso e voltou lá para dentro, o mister aos gritos com ele, ele a encolher os ombros, mania irritante que tinha pá, a andar como se não fosse nada com ele. Quando se cruzou com o Carlinhos olharam um para o outro e acenaram a cabeça um ao outro, ficou ali uma dívida que o Canina terá guardado, até hoje, se lhe perguntarem, de certeza que ele ainda se lembra disto, são daquelas coisas que um gajo não se esquece. Lá subimos, fizemos uma grande festa no balneário deles, partimos aquilo tudo pá, tivemos depois de fugir a correr para a camioneta porque queriam partir-nos a boca toda, e com razão, hoje em dia não faria uma coisa dessas, uma pessoa partir assim a casa de quem nos recebe está errado, não é?, éramos adversários mas não era caso para tanto. Bons tempos, pá. Na época seguinte começaram a aparecer os olheiros, pareciam abutres à volta das carcaças, como nos filmes, prometiam-lhe coisas, coisas que não lhe podíamos dar nem que ganhássemos o totobola. Parece que ia tirar a barriga da família de misérias, e quem é que se podia chatear com isso? Mas ele ia ficando, e ficava mais e mais próximo do mister, parecia estar sempre a aprender, sempre a tentar perceber as 43