juarense
parou quando o Moraisviii o ceifou já na grande área. Pensei
que o gajo ia pagar na mesma moeda, levantou-se num salto
e eu ui vem aí porrada, mas não, pegou na bola, pôs na
marca e disse ao Carlinhos para marcar. Bola para um lado,
Careca para o outro. E foi assim o jogo todo, sempre a partir
tudo e a daí em diante só ligávamos quando ele não nos
espantava com remates ou fintas ou passes que ninguém
estava à espera. Aos dezasseis, dezassete anos, pela minha
saúde, nunca tinha visto ninguém tão bom pá, começámos
logo a pensar no Benfica e coisas assim, íamos fazer um
negócio da China, eu já a ver o miúdo a lembrar-se de nós
nas páginas d’A Bola e eu que ia ter uma história para
contar. Bom, até tenho, mas não é a que eu achava que ia ter,
a vida dá estas voltas à gente e não há nada que se possa
fazer. Enfim, lá acabei por engraçar com o miúdo, aquilo
depois dava-se lhe confiança e ele não se calava pá, tinha a
mania de fazer partidas e dizia aos colegas novos que dar
uma festa na minha barriga dava sorte antes dos jogos e eu a
passar-me com os cabrõezinhos a virem dar-me festas à
socapa antes de perceber que era coisa do Canina. Começou
depois a dar-se bem com o Carlinhos, primeiro, depois ficou
mais próximo do Careca. Ao princípio o Careca só se dava
com o Morais. Andaram os dois na escola, eram vizinhos,
notava-se que tinham crescido juntos. Trocavam livros no
balneário às vezes. Se fossem outros dois era coisa para
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