Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 41

juarense parou quando o Moraisviii o ceifou já na grande área. Pensei que o gajo ia pagar na mesma moeda, levantou-se num salto e eu ui vem aí porrada, mas não, pegou na bola, pôs na marca e disse ao Carlinhos para marcar. Bola para um lado, Careca para o outro. E foi assim o jogo todo, sempre a partir tudo e a daí em diante só ligávamos quando ele não nos espantava com remates ou fintas ou passes que ninguém estava à espera. Aos dezasseis, dezassete anos, pela minha saúde, nunca tinha visto ninguém tão bom pá, começámos logo a pensar no Benfica e coisas assim, íamos fazer um negócio da China, eu já a ver o miúdo a lembrar-se de nós nas páginas d’A Bola e eu que ia ter uma história para contar. Bom, até tenho, mas não é a que eu achava que ia ter, a vida dá estas voltas à gente e não há nada que se possa fazer. Enfim, lá acabei por engraçar com o miúdo, aquilo depois dava-se lhe confiança e ele não se calava pá, tinha a mania de fazer partidas e dizia aos colegas novos que dar uma festa na minha barriga dava sorte antes dos jogos e eu a passar-me com os cabrõezinhos a virem dar-me festas à socapa antes de perceber que era coisa do Canina. Começou depois a dar-se bem com o Carlinhos, primeiro, depois ficou mais próximo do Careca. Ao princípio o Careca só se dava com o Morais. Andaram os dois na escola, eram vizinhos, notava-se que tinham crescido juntos. Trocavam livros no balneário às vezes. Se fossem outros dois era coisa para 41