Diogo Serra
Determinado a fazer aquela a sua morada. Não só no
papel. Determinado a acabar com o eco, passou o resto do
dia a receber a mobília. Entregas, papéis, enganos, a
distracção que ele precisava. Um jantar solitário. Em silêncio.
Mais calmo. Sem dúvida, mais calmo. No fim, a apatia
deixou-o de cabeça em cima dos braços, ainda sentado à
mesa. E daí até ao chão. Encostado à parede. Mesmo ao lado
da porta que o separa da rua. Olha a guitarra. No mesmo
sítio. Ainda despedaçada. O cansaço faz com que os olhos se
fechem. Ao longe, uma melodia, talvez do outro lado da rua.
Alguém mais partilha o seu gosto pela música. Uma voz
feminina. Uma voz desconhecida. Leva a sua mão até à
fechadura. Abre ligeiramente a porta, só para ouvir melhor.
No alpendre da casa contrária ela canta:
- Keep me where the light is… - repetidamente,
enquanto ao mesmo tempo executa acordes perfeitos,
acordes que esperam.
A mesma mão que abriu a porta apaga agora a luz.
- Keep me here, where the light is…
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