Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 20

Diogo Serra Determinado a fazer aquela a sua morada. Não só no papel. Determinado a acabar com o eco, passou o resto do dia a receber a mobília. Entregas, papéis, enganos, a distracção que ele precisava. Um jantar solitário. Em silêncio. Mais calmo. Sem dúvida, mais calmo. No fim, a apatia deixou-o de cabeça em cima dos braços, ainda sentado à mesa. E daí até ao chão. Encostado à parede. Mesmo ao lado da porta que o separa da rua. Olha a guitarra. No mesmo sítio. Ainda despedaçada. O cansaço faz com que os olhos se fechem. Ao longe, uma melodia, talvez do outro lado da rua. Alguém mais partilha o seu gosto pela música. Uma voz feminina. Uma voz desconhecida. Leva a sua mão até à fechadura. Abre ligeiramente a porta, só para ouvir melhor. No alpendre da casa contrária ela canta: - Keep me where the light is… - repetidamente, enquanto ao mesmo tempo executa acordes perfeitos, acordes que esperam. A mesma mão que abriu a porta apaga agora a luz. - Keep me here, where the light is… 20