Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 19

Where the light is isso fugiu. Não que a palavra lhe agrade. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Uma fuga. Amanhece agora, quilómetros e quilómetros volvidos, e mesmo quando o sol estiver alto, ninguém vai saber onde ele está. “Eu fico bem. Não me procurem. Darei notícias.” Eram as frases que ocupavam o bilhete deixado na mesa da cozinha, e uma meia dúzia de emails enviados. À chegada, ao entrar na garagem vazia, a dor é agora acompanhada por raiva. Na casa que tinha comprado para ela. Para ambos. Onde os passos ecoam no soalho. Onde pela janela entra a luz do sol e forma uma única sombra. Onde as malas só trouxeram os pertences de uma única pessoa. O indispensável e uma guitarra. Essa já fora do saco quando ele se sentou na única peça de mobiliário ali presente. Um banco de madeira. O início da terapia, que rapidamente se tornou o fim. A cada acorde, que devia afastar a dor, como aconteceu vez após vez, mais sofrimento. Mais raiva. Memórias. Uma discussão. Um acidente. Traição. Uma morte. E tudo acabou aí. No chão se juntam bocados da guitarra. Agora despedaçada. 19 como o seu coração: