INTUS ET IN CUTE
O pensamento morreu –
Matei-o eu.
Matei-o quando o passei para a folha.
Pouso a pena.
Pouso a pena em cima da folha,
Em cima do pensamento,
Em cima do poema…
Do bico da pena cai uma lágrima de tinta,
Pondo no ponto final uma vírgula:
Como que a pedir-me para não acabar,
Para continuar,
Para não me entregar ao fim.
Mas insisto. E acabo com ele mesmo ali –
Com vírgula e tudo
(Outro esperto, outro génio que o ressuscite
Se assim entender)!
Acabo de me rir sozinho.
Nem sei de que rio, mas rio.
Talvez da minha presunção de escritor;
Escrevo umas linhas, uns versos, umas imagens
E autointitulo-me de arrumador de palavras,
De escritor, portanto.
Eu? Logo eu que sou um artista!
Acendo um cigarro,
Sugo-lhe o fumo e respiro-o,
Como se não precisasse de oxigénio
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