Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 95

INTUS ET IN CUTE O pensamento morreu – Matei-o eu. Matei-o quando o passei para a folha. Pouso a pena. Pouso a pena em cima da folha, Em cima do pensamento, Em cima do poema… Do bico da pena cai uma lágrima de tinta, Pondo no ponto final uma vírgula: Como que a pedir-me para não acabar, Para continuar, Para não me entregar ao fim. Mas insisto. E acabo com ele mesmo ali – Com vírgula e tudo (Outro esperto, outro génio que o ressuscite Se assim entender)! Acabo de me rir sozinho. Nem sei de que rio, mas rio. Talvez da minha presunção de escritor; Escrevo umas linhas, uns versos, umas imagens E autointitulo-me de arrumador de palavras, De escritor, portanto. Eu? Logo eu que sou um artista! Acendo um cigarro, Sugo-lhe o fumo e respiro-o, Como se não precisasse de oxigénio 95