O HOMEM QUE UM DIA PAROU
melhor, mesmo sem razões aparentes para tal. Já Lurdes
crescera com uma certa revolta no seu coração, fruto não só
de muito gozo de que tinha sido alvo na escola à conta da
imobilidade do pai mas, acima de tudo, revoltava-a a
sensação de ter sido preterida por algo sem explicação, por
uma decisão que considerava egoísta de quem devia ser o seu
pai, mas havia preferido ser outra coisa qualquer sem nome.
No entanto, o tempo foi passando e apagando a mágoa, pelo
menos da forma como esta se manifestara nos primeiros
tempos. Foi por isso sem grande estranheza que mais tarde
não faltou quem a visse a conversar na Praça, sentada junto
ao seu pai. Ninguém sabia muito bem que tipo de conversas
eram aquelas, pois só Lurdes falava, mas acreditava-se que
Jorge ia respondendo com o velho esquema das piscadelas de
olho. Ainda assim, uma ou outra vez Lurdes afastava-se a
chorar visivelmente incomodada, não seria certamente fácil
ser adolescente e ter o pai numa situação assim mas
gradualmente, conforme se ia aproximando da idade adulta e
também quando foi estudar para fora, as conversas
tornaram-se mais esporádicas mas substancialmente mais
longas. O conteúdo das mesmas, esse continuo