O HOMEM QUE UM DIA PAROU
meio da praça, à vista de toda a gente sem ter cometido
qualquer ilegalidade, a polícia e os bombeiros tentaram
convencê-lo a ir para casa. Uma vez que Jorge Bonifácio não
respondia através de comunicação verbal ou escrita, dada a
sua imobilidade, foi estabelecido um sistema inicial de
comunicação com base em piscadelas de olhos – uma para o
sim, duas para o não e três ou mais em caso de poeira nos
olhos.
Assim se ficou a saber que Jorge Bonifácio estava bem,
que não queria ajuda, nem sequer sair dali, recusando-se no
entanto a dar qualquer explicação sobre as suas motivações.
Perante o pranto de Maria do Carmo e da filha de ambos,
Lurdes, que em 1987 tinha cerca de dez anos, há quem diga
que Jorge terá vertido uma lágrima, permanecendo no
entanto firme nas suas convicções, fossem elas quais fossem,
permanecendo imóvel que nem uma pedra a quem tivessem
atribuído olhos e a capacidade de respirar. E foi na força
dessa imobilidade que começaram a detectar os primeiros
sinais de que talvez Jorge Bonifácio não fosse apenas mais
um apanhado do clima a quem lhe tivesse dado para aquilo.
A verdade é que, passadas algumas semanas, e continuando
Jorge imóvel na praça, a Junta de Freguesia viu-se a braços
com um problema – as festas de São Julião estavam à porta e
era na praça Simão dos Santos que normalmente eram
montadas anualmente bancas e até um palco, para umas
77