Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 52

LOURENÇO BRAY ─ Há uma antena muito grande em Monsanto. ─ Sim, o Centro Retransmissor de Monsanto. ─ Então, aproxima-se as pipocas da antena, dentro de um saco de papel e esperar um bocado, passado meia hora começam a estoirar. ─ E ficam boas? ─ Não! ─ estendeu as patinhas em súplica, com as palmas para cima ─ Horrível! Horrível horrível horrível! Deitava a pequena língua rosada de fora e cuspinhava. Depois começou a massajar o focinho como que para regurgitar pipocas ali à minha frente. ─ Como é que ficou horrível? Pipocas são pipocas, Guaxinim. ─ Algumas rebentam logo e outras só no fim e então as que rebentam primeiro queimam todas e não se podem comer porque dá cancros. Tens de ir ao hospital, tratar dessa cara. Olha para ti. Tens de ir! Olha aqui... ─ estendeu-me a pata. ─ O que foi? ─ Olha! Olha para aqui! Não vês? Não via nada na pata dele, só um pouco de pêlo a despontar por entre as almofadas coçadas e as garras lascadas de esgravatar o buraco debaixo do muro da prisão. ─ Não vês? Aqui, ó! Está infectado. Um espinho. Até me custa a andar. Não dá para ver. Posso ficar sem a pata. 52