Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 47

MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS Vamos descrever a cela. A cela tem quatro por seis metros e nela reúnem-se todas as comodidades que podemos encontrar numa divisão deste tipo: uma cama de metal ferrugento, coberta por um colchão de esponja mole que absorve a humidade do ar, o que é positivo por um lado, mas que, por outro lado, a liberta toda de uma vez ao ser espremido pelo meu peso quando me deito em cima dele. Há muita humidade aqui. Por cima do colchão, um cobertor esburacado e uma almofada raquítica e luzidia de sebo, algum dele meu. Os buracos do cobertor permitem a fácil evaporação da humidade do colchão. O sebo impermeabiliza a almofada. Nem tudo é mau. No canto em frente à porta, uma sanita toda em metal, com um rolo de papel higiénico de folha simples, dos mais baratos, e um lavatório minúsculo, com uma torneira de água fria quase calcinada por oxidação e verdete. Para a minha higiene, disponibilizam-me sabão macaco em pequenas porções, não vá eu gastá-lo todo de uma vez a fazer bolhinhas até encher a cela num banho de espuma. O guarda Neves tem uma piada recorrente quando lhe peço mais um pouco de sabão. Diz-me assim, o Neves: 'queres mais sabão, macaco?' E depois ri-se, mas ri-se sozinho que eu não acho piada. Prefiro, mesmo 47