Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 41

RUI Deitado. Uma cama individual num quarto vulgar. Volta-se para ficar com o corpo virado para cima. Contempla o tecto. Vê aos cantos as manchas de humidade e bolor que se formaram com o passar dos anos. É uma casa antiga, num bairro antigo de Lisboa. Repara também na lâmpada que pende ao centro do tecto, resultado de uma instalação eléctrica descuidada. Provavelmente houve em tempos um quebra-luz que envolvia a lâmpada. Talvez. Mas, o que via era apenas a lâmpada pendurada por fios eléctricos que saíam do tecto. O tecto era de um branco que já havia sido branco. Amarelado pela humidade e pelos maus tratos do tempo. Fora isso, não havia mais nada que lhe pudesse prender a atenção. O tecto era quadrado, tal como o quarto que se assemelhava a um cubo exíguo, que por vezes o oprimia. Mas hoje não. Volta-se para o lado direito. Encostado à parede está o roupeiro onde guarda a pouca roupa que possui. Tal como tudo naquele quarto, o roupeiro ostenta uma idade indecifrável. Estava ali quando Rui chegou e quase de certeza iria continuar nesse local depois de ele o abandonar. Não conseguia perceber qual o material que o constituía. Apenas notava que já havia sido novo, mas agora parecia ter a idade das coisas que não conseguimos determinar. Talvez fosse da 41