Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 34

JOÃO NEVES num psicólogo e tudo, vê lá. Alguma vez permitirias isto? Claro que não. Acho que foi o Bruno que lhe pôs algum juízo. Não me livrei da chatice por uns tempos: a mãe sempre a fazer-me perguntas incómodas, não me deixava ficar sossegado no quarto, a pensar. Pensar, pensar a sério, é uma dificuldade muito grande. Pelo menos para mim. Preciso de estar sozinho, preciso de fixar os olhos num ponto no horizonte, a mãe vê-me assim e diz-me tens de comer cebola que faz bem ao pasmo, eu digo que não estou pasmado que estou a pensar, se tu visses como ela abre os olhos, parece que grita o meu filho a pensar, que mal fiz eu. O padre já aí vem, as pessoas estão a levantar-se, parece que vai começar. O Bruno está sempre a fazer sinais aos amigos, não sei se levam isto mesmo a sério, a Filipa ajeita o Bruninho e faz um daqueles olhares de reprovação que só as mulheres sabem fazer, deve ser um ritual passado entre gerações em festas de tupperware de fim-de-tarde, daquelas que a mãe ia de vez em quando. Foi numa dessas reuniões que vi as minhas primeiras mamas, ias ficar orgulhoso pai, as da Helena, sim, a amiga da mãe, acho que tens inveja agora, confessa lá. A mãe tinhame mandado ir brincar para um quarto no fim do corredor e eu, distraído, nem prestei atenção qual foi a porta de onde saímos, quando ouvi a mãe chamar por mim para irmos embora fui para o corredor sem perceber qual era a porta de 34