Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 18

NINGUÉM O despertador tenta acordar. Mexe essas pernas! Mexe tu que as tens! Vai tu que eu faço de galo. País Butão, poderia viver lá com nada em casa da camisa. Tudo se sabe, nada se encontra. A primeira palavra ouvida na sala após todo um mecânico despertar: “Vá.” Dirigindo-se à última gota que não queria ser sacrificada no topo da garrafa de cristal. Olhei para o copo, picado, vi meu reflexo, sentado. Serei eu bebível, intragável? Mexi-me um pouco, remexi minhas ondas. Estagnei. Provei-me. Um rio escoa inalado. Estou eu e eu em diferentes estados. Líquido, Alabama, Alcoolizado. Hoje acordei como todos acordam, abrindo os olhos e, como poucos, sorrindo. Pensei num mundo cheio, mundo flácido, gordo. Leite pastoso, fora de validade. Um mundo ressacado de uma ébria, pálida noite. Toquei no quadrado de sol e passeando na floresta de alcatifa encontrei miolos que não me levavam a sítio algum. Apenas a uma ideia de vazio. Decidi eliminá-los, assoprá-los, aspirá-los. Não o fiz. Despejei-me a mim. Mijei, caguei, num ápice me masturbei. Lavei-me, esfreguei-me, limpei-me. Todo nu desatei o atado escrever. Quis esvaziar tudo em mim, todas as palavras que 18