Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 16

NINGUÉM Haverá alguém que me acompanhe? Sei que sim. Mesa servida, talheres trocados. Um brinde pelo rasgo da janela. Quantos não foram já, fugidos de serem engolidos? A guerra que se avizinha Ninguém a quer presenciar. Um castigo, dizem anões. Decadente, os puritanos. Desgastante, os de fim-de-semana. Caspa que cai, caspa que vem. Quem diz que não neva em terras solares, solarengas? Desde o nariz até à cabeça. É o seu trilho. Será sol para alguém, que Ninguém? Sei que sim. Pontos nos is. Agora já? Ninguém. E quem canta. É sempre bem-vindo um som que acompanhe a caspa. Som que inala, que evapora, que contagia, que estraga, que abomina. Que seria de nós sem música, sem poesia? O sol queima-me a testa, mas não me desvio. Adquiro sua energia. Na cidade de luz suspiro. Do nada, surge-me Ela, elegante como sempre e começa a dialogar. Virás tu para me salvar? Tu, amiga amarga? Virei eu para te beber, causa amiga? Seremos um do outro, companheiros da necessidade, apologistas de um novo mundo com uma nova luz. Seguir-me-ás, seguir-te-ei? Surgesme sempre na paisagem, minha bela, minha sempre nova. Leva-me à terra prometida, desejada. Mostra-me que o paraíso não se perdeu, que não tenho que voltar à cona da minha mãe para o encontrar, pois dentro de mim está. 16