Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 15

VQPRD altura de minha esgrima. Espada afiada pelo sangue de mil anões. Voltei da caça com um saco e uma pipa. Eu que lutei por mares, encontrões e promoções, velhas de carrinhos em punho, carrinhos de mamas de leite. Eu, que despertei uma caixa mágica de impaciência, chego agora vitorioso ao local de festim. Em mim. Sou eu a contradição do cínico. Nunca cão, amando e criticando segundo épicos critérios, ancestrais códigos de entendimento. Por isso trago o vinho. Para me perceber-vos. Bebei de mim, o que de vós engoli. Assim será o ciclo do repuxo. Ao sol. Sol de lume. Um bico aceso. Não de joelhos, mas de fogo intenso. Cozinhamos algo que por fim saberá a pato. Capítulo da arte de cozinhar de copo largo de tinto na mão e cigarro na outra. Inspector, dono de operações requintadas, realizadas sob o gesto calculado da porção. Sal e pimenta sobre um naco de carne. Em sangue se revira sofrendo no fogo em que se afasta e dança. Em sangue vai para a mesa. Aqui o como, o sorvo. Ao lado negra caneta espera impaciente ser tocada, virgem estreada. Capítulo de como se deve comer. Devagar. Muito devagar. Como a uma mulher. Suave, molhado. Apreciada, degustada, embebida. Carne que se saliva, se mastiga, se cospe, se engole, se fode, torce. 15