Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 10

NINGUÉM III Começou agora o Vqprd. Saltam rolhas, cospem copos. Um trago e um descanso. Letras, fumo, vinho, palavras, ninfas. Não desliguei a música ao bater a porta. Que acompanhem o tilintar do vidro. Que esbarrem garrafas no fim. Estou eu, nu, assim. Jejum de carne, fome de espirito. Aqui estou eu a voltar-te a escrever. Mais pequeno, mais contínuo. Aqui estou eu, embaciado no copo alto que me exalta, perfura e estagna. No silêncio. Tudo o é. Tudo deveria. Continuação. Embarque de tinto. Alvos marinheiros no lago que se anuncia erroneamente estagnado. Bolina copo barco. Sorvo-te. Nove meses de estágio em barricas de alta qualidade. Quanto mais te escrevo, mais me conheço. O nada que sempre soube apodera-se, incalculável, da construção do inefável. Tenho-te outra vez. Outra vez de volta, cá fora, à espera, à espera de penetrar-te. Eu sou a repetição, linha cronológica de incompreensão. Eu sou a filosofia, poesia, do Agora e do Sempre. Eu sou a forma nefelibata de teu sonho. Ciclo de uva. Mosto, suco suculento de uva. Viticultura. Plantar palavras e deixar crescer, saborear ao longo do tempo, decantar. O vinho, o livro, a vida, roçam-se por prazer. Afogado, morto, renascido louco pássaro em lago absorto, ergue sua bolha no espesso reino grená, erupção na 10