Desfazer as confusões pd52 | Page 91

um aumento de preços pode levar apenas à substituição nos tipos de bebidas (e/ou de drogas). E, na verdade, não parece provável que a ilegalidade provoque uma elevação do preço final destas bebidas por conta dos custos de transação do mercado negro que deve ser equivalente à elevada incidência dos impostos na oferta legal do produto. Sendo a produ- ção e a comercialização ilegais, desaparece o ato tributário, dimi- nuindo o peso dos impostos no preço final do produto. O resultado seria, portanto, uma bilionária transferência de receita do Estado para o crime organizado, ampliando significati- vamente a desvantagem desse no seu combate às atividades ilegais e criminosas. A experiência desastrosa da Lei Seca, que vigorou por 13 anos nos Estados Unidos (de 1920 a 1933), confirma esta análise: não reduziu o consumo de álcool e, ao mesmo tempo, aumentou a criminalidade, corrompeu as instituições e promoveu o fortalecimento da máfia no país, tudo acompanhado da queda de receita pública e da elevação dos gastos no combate ao crime. Os governos brasileiros (nos diferentes níveis federativos) já gastavam, em 2015, cerca de R$ 23,9 bilhões com policiamento em todo o Brasil, parte significativa disso decorrentes do combate ao negócio das drogas. Segundo estimativa de Luciana da Silva Teixeira, a despesa do Estado brasileiro na manutenção dos prisioneiros por crime vinculado ao negócio das drogas chega a R$ 3,32 bilhões por ano. 5 O que aumentaria de forma significativa no caso de criminalização das bebidas alcoólicas. O mercado negro de bebidas alcoólicas geraria, além disso, um aumento dos danos desta droga à saúde do usuário, na medida em que estaria livre da fiscalização e do controle de qualidade dos produtos por parte da Anvisa ou outro órgão público. O consumi- dor estaria, assim, exposto a produtos de alta toxidade, com conse- quências graves para a sua saúde, e com decorrente elevação dos custos sociais do sistema de saúde pública. Tudo indica, portanto, que a criminalização das bebidas alcoólicas seria altamente nefasta para o consumidor e um desastre para a sociedade. A referida lei de criminalização do álcool é, felizmente, apenas uma hipótese improvável levantada com o único propósito para provocar a discussão sobre a política de combate às drogas. 5 Estimativa a preços de 2014 e considerando, segundo hipóteses da consultora, que um quarto da população carcerária estaria vinculado ao tráfico de drogas. Seriam, assim, 151.843 prisioneiros a um custo mensal de R$ 1.824,44. Economia e política da droga 89