Desfazer as confusões pd52 | Page 90

Brasil, por onde passa uma parte importante da distribuição de bebidas alcoólicas, ocupavam cerca de seis milhões de pessoas (2011). Parte destes milhões de trabalhadores ocupados na produ- ção e distribuição de bebidas alcoólicas tenderia a formar um novo exército de traficantes com o novo negócio ilegal. Como consequência do fechamento das empresas, o Estado brasileiro perderia bilhões de reais em arrecadação de impostos incidentes sobre mercadorias e o pessoal ocupado, incluindo contri- buição previdenciária. Apenas a produção industrial de bebidas alcoólicas representou, em 2015, cerca de R$ 38,66 bilhões (Valor Bruto da Produção – PIA/IBGE). Supondo uma média de 56% de alíquotas de imposto sobre bebidas alcoólicas, 3 o Brasil teria tido, em 2015, uma receita pública de, aproximadamente, R$ 21,65 bilhões por ano, recursos que deixariam de ser arrecadados no caso da criminalização da produção destas bebidas. Os governos estariam perdendo esta receita, ao mesmo tempo em que teriam que ampliar o sistema de repressão, multiplicando os presídios e aumentando a força militar e a violência na guerra contra o crime organizado (estes cada vez mais fortes). Equação explosiva, num Estado já quase falido. Por outro lado, segundo estimativa de Luciana da Silva Teixei- ra, 4 o negócio da droga no Brasil representava (em 2014) cerca de R$ 14,6 bilhões de reais por ano (quase R$ 5,7 bilhões apenas com maconha), que alimenta e financia o crime organizado. Assim, se a produção e o consumo de drogas hoje ilícitas não fossem atividades criminosas, os governos poderiam contar com uma significativa receita tributária para financiar campanha educacional e investimentos para a redução dos danos. Os defensores da criminalização do álcool poderiam argumen- tar que o mercado negro levaria a um aumento do preço final das bebidas pelo sobrepreço do risco e dos custos de transação, o que tenderia a moderar o seu consumo, potencializando o medo do uso de um produto proibido por lei. Será? Tudo indica que a demanda de bebidas alcoólicas é quase inelástica, de modo que 3 4 88 Dados da Associação Comercial de São Paulo mostram a elevada carga tributária (incluindo ICMS) das bebidas alcoólicas: 55,6% da cerveja, 54,73% do vinho nacional (importado chega a 69,73%), e 81,73% de cachaça (vodca 82% e whisky 61%). Ver Impostômetro de 22/12/2017 e Exame de 19/11/2013 (matéria de João Pedro Caleiro). Da Silva Teixeira, Luciana – “Impacto econômico da legalização das drogas no Brasil” – Consultoria Legislativa – ago./2016. Sérgio C. Buarque