Desfazer as confusões pd52 | Page 87

Economia e política da droga Sérgio C . Buarque E xistem drogas legais e ilegais. A diferença depende de deci- são política que, em tese, considera os riscos e efeitos sobre o consumidor e sobre a sociedade, além de aspectos e valo- res culturais. Sempre será uma escolha política, mesmo consi- derando os fundamentos científicos que levem à diferenciação. A bebida alcoólica é uma droga. Droga legal, mas, assim mesmo, droga. Desempenha um papel importante na convivência social de praticamente todas as culturas. Mas é uma droga, se for consi- derado seu efeito nos comportamentos e na alteração do estado de consciência dos usuários. Por isso, não seria de todo absurdo que o Congresso Nacional, num delírio fundamentalista, aprovasse a ilegalidade do consumo e da venda de bebidas alcoólicas, de modo que, qualquer pessoa que carregue ou tenha em casa uma garrafa de uísque ou de cachaça, ou algum estoque semelhante de vinho, pudesse ser preso como consumidor ou traficante. Absurdo? Não. Improvável? Sim. Mas não de todo absurdo, consi- derando os conhecidos danos causados pelo consumo de álcool: à saúde do usuário, gerando também um custo social elevado para o sistema de saúde pública; e à sociedade pela agressividade e violên- cia, pelos acidentes, morte e assassinato provocados pela embria- guez que decorre do consumo do álcool, inibindo o estado de vigilân- cia e a percepção de risco e gerando agressividade. 85