hierarquia de poder e a crescente capacidade de exercê-la por
algumas empresas, seja pela redução da ação governamental ou,
então (e muito mais decisivo), pelo poder do capital financeiro e
seus agentes de organizarem a estrutura tecnológica, organiza-
cional e normativa que melhor possa servir aos seus interesses;
(b) em grande parte como consequência da primeira tendência
antes referida, intensifica-se um forte e visível processo de dife-
renciação social, também chamado às vezes de “exclusão social”
(por sua face negativa). O que significa que a expansão econômica
da agropecuária brasileira, nesta etapa recente, produz uma anti-
nomia nítida nas regiões rurais – poucos vencedores e muitos
perdedores. Em termos concretos, esta força econômica e finan-
ceira, associada particularmente às tendências demográficas das
últimas décadas (discutidas em outras partes desse livro), está
produzindo o esvaziamento do campo brasileiro. Em 2040, sem
nenhuma dúvida, apenas duas macro regiões, o Nordeste e os três
estados sulistas, deverão ainda apresentar indicadores de densi-
dade populacional rural de alguma significação quantitativa;
(c) o tema da heterogeneidade estrutural do campo brasileiro
vem assumindo uma faceta dramática, não apenas em termos
econômicos, mas, em especial, no tocante aos seus aspectos
sociais. Na gênese do processo de modernização proposto como o
ponto zero – a década de 1970 – as regiões rurais já eram caracte-
rizadas por forte distinção estrutural entre si, destacando-se o
Nordeste rural por sua trajetória histórica de pobreza. Nessas cinco
décadas, aprofundou-se fortemente a heterogeneidade entre grupos
e classes sociais rurais, entre as regiões, entre as cadeias produti-
vas e também se comparados os tipos de produtos agrícolas e
pecuários. Nesse aspecto, o que se pretende aqui salientar é, sobre-
tudo, o destino do Nordeste rural, uma gigantesca área do territó-
rio brasileiro, marcado pela presença em seu interior do semiárido,
cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas e inviabilizado
do ponto de vista agrícola pela escassez de água. Estaria o Nordeste
rural (e, especialmente, o semiárido) condenado a deixar de ser um
espaço produtivo e social em prazo médio?
(d) a forte modernização produtiva e tecnológica de diversos
ramos produtivos da agropecuária tem estimulado a emergência
de diversas formas organizacionais caracterizadas por crescente
complexidade – sobretudo no aspecto tecnológico. É tendência que
deve tornar-se ainda mais aguda com o passar dos anos, a qual
exigirá dos agricultores conhecimentos especializados para lidar
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Zander Navarro; Maria Thereza Macedo Pedroso