inexistência de meios de transporte impedia esta mobilidade do
trabalho. E a mobilidade do capital é ainda mais ágil e conhecida
sob o rótulo das mudanças espaciais materializadas nos últimos
cinquenta anos. Gradualmente se percebe a emergência de um
novo “arco produtivo” no centro do Brasil, formado por uma
imensa área geográfica que se estende a partir do oeste do rio São
Francisco, na Bahia, e cobre os estados de Goiás, a maior parte
de Tocantins, praticamente todo o Mato Grosso e a maior parte do
Mato Grosso do Sul, se estendendo também a oeste até Rondônia.
Esta grande região emerge atualmente como a mais importante,
do ponto de vista da produção agropecuária e deve consolidar-se
como o maior polo produtor do Brasil.
O quinto “fato novo”, de imensa importância por suas diversas
implicações, diz respeito à estrutura de produção do sistema
agroalimentar brasileiro, o qual se torna diversificado, flexível e
sensível aos sinais de mercado, além de mostrar sinais crescentes
de sofisticação adaptativa. Sua evidência principal é a integração
aos mercados mundiais, na esteira da globalização, um fato de
imensas consequências para o setor agropecuário do país.
Há um sexto fator que também precisa ser introduzido nesta
análise e que evidencia a subordinação do campo, da produção e
inclusive de aspectos sociais e culturais da vida rural às marcas
tipicamente urbanas, uma inversão que contribui decisivamente
para também sepultar o passado agrário. Um fascinante tema de
pesquisa seria investigar o da indústria cultural que “capturou”
parte da música de origem rural (sertaneja) e a transformou em
uma das mais poderosas iniciativas da música brasileira atual,
totalmente dominada por interesses urbanos. Mas outra demons-
tração empírica específica diz respeito à formação de novas ocupa-
ções ligadas às cadeias produtivas ou, mais genericamente, ao
“emprego não agrícola do agronegócio”. Lembrando que as ativi-
dades rurais foram os maiores empregadores em toda a história
brasileira, fato que foi interrompido em 2011.
Por fim, em conclusão, outra evidência reveladora de um novo
período experimentado pela produção agropecuária e pela vida
social rural pode ser evidenciada por dois fatos tipicamente “agrá-
rios” que foram ostensivos no passado, mas que vão deixando de
existir. Primeiramente, o gradual desaparecimento de temas
necessariamente associados à história rural anterior do país,
como reforma agrária e os conflitos a ela associados, assim como
o surgimento de um movimento social de trabalhadores rurais
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Zander Navarro; Maria Thereza Macedo Pedroso