Desfazer as confusões pd52 | Page 73

produtivas e a presença de grandes empresas, inclusive multinacio- nais, significou também a valorização dessas firmas na bolsa de valores. A agropecuária brasileira, de fato, se transformou em uma máquina de produção de riqueza e, por esta razão, vem atraindo mais capitais, tanto os nacionais como os investidores externos. Como discutido em outros capítulos do livro, a notável expan- são da produtividade total de fatores é um segundo aspecto a ser enfatizado, pois a presença dominante da tecnologia e das inova- ções (ou “a ciência”, em geral) representa, concretamente, não apenas a constituição de uma nova geração de produtores rurais e seus comportamentos distintos do passado. Representa também a concretude da dominação dos determinantes econômicos e finan- ceiros, pois a expansão da tecnologia nos sistemas agrícolas de produção, de fato, significam custos mais elevados, número maior de firmas presentes, ampliação das cadeias produtivas, mais inves- timentos e maior lucratividade do negócio como um todo. Outro aspecto a ser salientado diz respeito à perda de impor- tância, na contabilidade econômica desse novo padrão de acumu- lação, dos fatores “terra” e “trabalho” vis-à-vis o fator “tecnologia”. Esta inversão estatística tem sido amplamente demonstrada, em acordo com os dois últimos censos, em 1995/96 e o Censo 2006. Enquanto a participação dos fatores trabalho (0.26 e 0.21) e terra (0.15 e 0.09) caíram nos dois censos, o fator tecnologia cresceu ainda mais no intervalo entre os censos, de 0.42 para 0.64. São indicadores nacionais que demonstram cabalmente, entre outros impactos, a irrelevância, por exemplo, de um programa nacional de redistribuição de terras, pois oferecer parcelas de terras a famílias rurais pobres, de fato, não significa uma oportunidade promissora, mas apenas uma rápida etapa com acesso à terra, mantendo, porém, a pobreza rural. O quarto aspecto entendido como um “fator novo” no período recente é típico de processos expansivos de crescimento econô- mico que “liberam os fatores de produção” (capital, trabalho), dotando-os de maior mobilidade, seja no tocante aos investimen- tos realizados ou, então, no que diz respeito à sua mobilidade territorial. Nesse caso, não podendo ilustrar com inúmeras situa- ções específicas, registre-se apenas a verificação empírica atual- mente notória nas diversas regiões rurais. Primeiramente, preva- lece uma ampla mobilidade de trabalhadores rurais assalariados, capazes de longas viagens em busca de emprego com melhores condições de remuneração, ao contrário do passado, quando a O Brasil rural (1968-2018): 71