produtividade geral. No entanto, uma vez imposta uma lógica capi-
talista, aquelas tendências anteriores foram gradualmente
perdendo sua primazia e o fator “tecnologia” (ou intensificação
produtiva) passou lentamente a se tornar o determinante principal
e, também de forma gradual, o condutor da expansão econômica
da agropecuária passaria a ser outro – a produtividade. Em
síntese, o que aqui se discute é exatamente a transição entre um
“Brasil rural agrário” do passado para um “Brasil rural [essen-
cialmente] agrícola” orientado, crescentemente, por forças estrita-
mente econômico-financeiras. Nesta passagem histórica, entre
outras implicações, o mercado de trabalho rural vem encolhendo,
enquanto ampliam-se os processos de mecanização da atividade.
E o fator terra passou a ser administrado de forma radicalmente
diferente – do crescimento extensivo à busca incessante pela
“produtividade vertical”, elevando os resultados por unidade de
terra, capital e trabalho.
Como faceta crucial a ser enfatizada, sendo o resultado
imediato da transição referida, o adensamento tecnológico que
vem caracterizando as mudanças recentes no setor agropecuário
significa, como resultado social mais dramático, o aprofunda-
mento ainda mais grave das assimetrias sociais no campo brasi-
leiro. Nos anos setenta, a desigualdade social naquelas regiões já
era espantosa, mantendo, de um lado, uma das maiores concen-
trações da propriedade da terra do mundo e, do outro lado, uma
imensa massa de famílias rurais empobrecidas. A expansão
econômica e, em especial, a disseminação tecnológica entre os
produtores rurais de orientação mais empresarial e crescente-
mente integrada aos mercados globais, vem ampliando a distân-
cia econômica entre esta minoria e o restante da população que
vive nas áreas rurais.
Em consequência, apresentados a seguir sinteticamente,
o primeiro e mais decisivo fator a ser salientado é a emergência,
plena e incontestável, do imperativo econômico e financeiro como o
condutor principal do desenvolvimento agrário, subordinando todos
os demais eixos de transformação que, em décadas passadas,
tinham tido importância também proeminente. São inúmeras as
evidências empíricas a respeito. O financiamento da atividade, por
exemplo, que inicialmente era totalmente dependente dos recursos
do Tesouro Nacional, depois passou a contar com recursos de empre-
sas privadas e dos próprios agricultores e, mais recentemente,
também de investidores internacionais. O crescimento das cadeias
70
Zander Navarro; Maria Thereza Macedo Pedroso