Desfazer as confusões pd52 | Page 72

produtividade geral. No entanto, uma vez imposta uma lógica capi- talista, aquelas tendências anteriores foram gradualmente perdendo sua primazia e o fator “tecnologia” (ou intensificação produtiva) passou lentamente a se tornar o determinante principal e, também de forma gradual, o condutor da expansão econômica da agropecuária passaria a ser outro – a produtividade. Em síntese, o que aqui se discute é exatamente a transição entre um “Brasil rural agrário” do passado para um “Brasil rural [essen- cialmente] agrícola” orientado, crescentemente, por forças estrita- mente econômico-financeiras. Nesta passagem histórica, entre outras implicações, o mercado de trabalho rural vem encolhendo, enquanto ampliam-se os processos de mecanização da atividade. E o fator terra passou a ser administrado de forma radicalmente diferente – do crescimento extensivo à busca incessante pela “produtividade vertical”, elevando os resultados por unidade de terra, capital e trabalho. Como faceta crucial a ser enfatizada, sendo o resultado imediato da transição referida, o adensamento tecnológico que vem caracterizando as mudanças recentes no setor agropecuário significa, como resultado social mais dramático, o aprofunda- mento ainda mais grave das assimetrias sociais no campo brasi- leiro. Nos anos setenta, a desigualdade social naquelas regiões já era espantosa, mantendo, de um lado, uma das maiores concen- trações da propriedade da terra do mundo e, do outro lado, uma imensa massa de famílias rurais empobrecidas. A expansão econômica e, em especial, a disseminação tecnológica entre os produtores rurais de orientação mais empresarial e crescente- mente integrada aos mercados globais, vem ampliando a distân- cia econômica entre esta minoria e o restante da população que vive nas áreas rurais. Em consequência, apresentados a seguir sinteticamente, o primeiro e mais decisivo fator a ser salientado é a emergência, plena e incontestável, do imperativo econômico e financeiro como o condutor principal do desenvolvimento agrário, subordinando todos os demais eixos de transformação que, em décadas passadas, tinham tido importância também proeminente. São inúmeras as evidências empíricas a respeito. O financiamento da atividade, por exemplo, que inicialmente era totalmente dependente dos recursos do Tesouro Nacional, depois passou a contar com recursos de empre- sas privadas e dos próprios agricultores e, mais recentemente, também de investidores internacionais. O crescimento das cadeias 70 Zander Navarro; Maria Thereza Macedo Pedroso